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Alentejo exporta 22% da sua produção de vinho
Para fazer face à tendência de redução do consumo interno, os produtores de vinho alentejano intensificaram nos últimos anos a sua aposta em mercados externos e conseguiram, na últíma década, subir o volume de exportações para fora da União Europeia em 458,7%.

Só no ano passado, foram vendidos para mercados não comunitários mais de 11 milhões de litros de vinho alentejano - os mercados lusófonos de Angola e do Brasil lideram a lista de compradores. Seguem-se os Estados Unidos da América, a China e o Canadá, segundo dados revelados ontem por Dora Simões, presidente da CVR Alentejana, em Évora, na primeira conferência regional "Uva dOuro", a iniciativa que o Diário de Notícias, o Jornal de Notícias, a TSF e o Continente estão a promover à escala nacional para dinamizar a divulgação dos vinhos portugueses.

O Alentejo mantém a sua posição de liderança no mercado nacional, detendo uma quota de mercado de 43,2% em volume. Uma quota de mercado que tem crescido sobretudo no canal de retalho, em contraponto à quebra verificada no Canal Horeca. "Coincide com os novos hábitos de consumo dos portugueses, que fazem mais refeições em casa e menos no restaurante", constata Dora Simões.

Com 263 produtores de vinho e 97 comerciantes, o Alentejo ocupa atualmente o quinto lugar no ranking nacional de área de vinha. São 21970 hectares de área produtiva que asseguram 14% da produção nacional de vinho, a uma média de 5500 quilos por hectare. O vinho tinto continua a liderar a produção alentejana (78,2%), ocupando o vinho branco aproximadamente um quinto do total da produção (20,4%). Diminuta, mas com tendência de consolidação, é, para já, a produção de vinho rosé, que não vai além dos 1,4%.

Melhorar a qualidade e eficiência da certificação do vinho alentejano é um dos projetos que a CVR Alentejana assume como âncora da sua atividade. O Alentejo é, atualmente, a região que mais certifica vinho (97% da vinho é certificado) e Dora Simões tem apostado não só na melhoria contínua dos serviços da CVR Alentejana, enquanto entidade certificadora, mas também na acreditação do laboratório de análises físico-químicas e na acreditação da câmara dos provadores.

A CVR Alentejana está ainda empenhada na implementação de um programa de sustentabilidade dos vinhos regionais, antecipando futuras exigências dos mercados interno e externo e apostando na otimização de recursos, na preservação da riqueza natural do Alentejo e na agregação de valor ao produto final.

Preços cada vez mais reduzidos

A elevada competitividade no sector e a quebra nos preços e nas margens de lucro da comercialização de vinhos pautam o quotidiano dos produtores e acentuam as suas preocupações num negócio que vive essencialmente de relações duradouras. "Quem investe nos vinhos tem de ter uma perspetiva de médio e longo prazo e por isso impõe-se a necessidade de solidez financeira", alega Alexandre Relvas, da Herdade de São Miguel. Com uma produção anual de 2,5 milhões de garrafas, a herdade exporta 65% dos seus vinhos e só no ano passado conseguiu colocar as suas garrafas em 28 países. Em Portugal, aposta essencialmente na grande distribuição, mas sente cada vez mais dificuldade em manter o preço médio mínimo de dois euros à saída da adega. "Não tem sido fácil e assumo que nem sempre o conseguimos, mas apostamos na inovação, na flexibilidade comercial e no consumo de grandes formatos, que têm cada vez maior procura", revela.

A redução do preço do vinho é uma tendência que também desperta preocupação assumida junto dos 300 viticultores associados da Adega Cooperativa de Borba. "Vemos o preço a descer, a procura de marcas brancas a subir e os custos de produção também elevados. Neste cenário, será possível reduzir ainda mais o preço do vinho?", questiona Óscar Gato, enólogo da Adega de Borba.

Assegurando uma produção anual de 11 milhões de litros de vinho, a Adega Cooperativa de Borba tem apostado na redução do consumo de água e energia para aumentar a eficiência da exploração dos 2200 hectares de vinha. A otimização dos recursos tecnológicos disponíveis e a rentabilização do espaço dos armazéns e prateleiras têm contribuído igualmente para o sucesso do projeto. Óscar Gato garante que "o consumidor procura hoje um vinho simples, consistente ao longo do ano, com boa imagem e bom preço", mas não deixa de acreditar que "entre todos os produtores, poderíamos educar o consumidor para apreciar outros vinhos mais complexos".


Aposta na diferença do Alentejo

" É preciso repensar de forma estratégica a política de vinhos do Alentejo para o médio e longo prazo", alega Paulo Laureano, enólogo e produtor de vinhos. "Há um fraco reconhecimento internacional da qualidade dos vinhos do Alentejo e uma ausência quase absoluta de uma cultura de cooperação entre as empresas do sector", lamenta o produtor que em 1999 fundou na Vidigueira a Paulo Laureano Vinus. Hoje, a empresa assegura uma produção anual de um milhão de garrafas, das quais 80% são comercializadas além-fronteiras.

"Se soubermos construir uma boa história para o vinho alentejano, vamos conseguir bons argumentos de venda", sugere o produtor, acreditando que essas diferenças também devem ser encaradas com otimismo. "A diversidade do Alentejo é um fator favorável e temos de saber aproveitá-lo", sublinha, defendendo inclusive uma "integração dos vinhos com tudo o que distingue o Alentejo na gastronomia, na cultura, nas tradições e até na biodiversidade".

Também Filipe Caetano, diretor de Marketing do Esporão, aposta na distinção dos fatores diferenciadores da região para sustentar o sucesso dos vinhos regionais. "A aposta no enoturismo é inevitável porque o Alentejo suscita um envolvimento emocional, onde os aspetos naturais são muito realçados. Há uma ligação forte ao calor, à planície, à calma", constata. "O vinho do Alentejo deve distinguir-se pela sua acessibilidade, pela excelente relação qualidade/preço, pela sua versatilidade e grande aptidão gastronómica", defende Filipe Caetano.

Assegurando exportações de vinho desde o início dos anos 90, e que hoje atingem 55% da produção, a Herdade do Esporão encontra em Angola, no Brasil e nos Estados Unidos da América os mercados preferenciais para as suas vendas.

"Mas é preciso vender melhor os nossos vinhos, construindo uma relação forte e direta com o consumidor", alega Filipe Caetano, sugerindo que "fora de Portugal, do Brasil e de Angola se procurem consumidores de nicho, abertos a descobrir novos vinhos e que encarem os vinhos português como vinhos exóticos".

Setúbal acolhe próximo debate

Conferências: Os vinhos do Tejo e da Península de Setúbal estarão em foco na segunda conferência regional "Uva dOuro", marcada para 29 de julho. Esta é uma das regiões que têm vindo a registar índices mais relevantes de crescimento de quota de mercado nacional de vinho, o que justifica o encontro de produtores e distribuidores regionais para debater os desafios da região no amai contexto económico do país.

A iniciativa Uva dOuro tem ainda programadas mais duas conferências regionais. Em Coimbra, estarão em debate os vinhos de Lisboa, Bairrada e vinhos verdes, a 19 de agosto. Já em Lamego, a 3 de setembro, os produtores e distribuidores locais serão convidados a analisar os desafios que se impõem no mercado de vinhos do Dão, Douro, Trás-os-Montes e Beira Interior.
A iniciativa Uva dOuro tem um dos seus pontos altos marcados para 17 de setembro, data em que serão entregues, no Porto, os 75 prémios Uva d Ouro. As distinções resultam de uma prova cega realizada a 17 e 18 de junho, em Lisboa, onde 250 vinhos selecionados pelo enólogo online do Continente, Aníbal Coutinho, foram submetidos à apreciação de um painel de jurados composto por reconhecidas personalidades do mundo vinícola.

A prova obedeceu à metodologia reconhecida pela Organização Internacional do Vinho e da Vinha, que é usada em provas internacionais, e permitirá não só distinguir os melhores vinhos de cada região, como também premiar alguns vinhos de excelência. Em comum entre todos eles está o facto de habitualmente se encontrarem à venda nas prateleiras dos hipermercados Continente. Será, aliás, na Feira de Vinhos do Continente que os vinhos premiados estarão expostos com distinção, exibindo os selos referentes aos prémios conquistados.

ENTREVISTA: DORA SIMÕES - Presidente CVR Alentejana
"A imagem do País ainda é uma dificuldade em alguns mercados"

Os produtores alentejanos nunca estiveram tão motivados para exportar como hoje?
O Alentejo nunca exportou tanto vinho como agora porque sempre esteve muito alavancado no mercado nacional. Tinha uma grande quota de mercado e os preços de comercialização conseguiam ser relativamente altos. Isso gerava uma fraca necessidade de trabalhar o mercado das exportações. O facto de ter sido registada uma estagnação no mercado nacional, com decréscimo do consumo e com previsões de decréscimo no preço médio do vinho, levou as empresas a reorientarem-se, nestes últimos anos, para a exportação. E estão a fazê-lo de forma muito consequente. Há empresas que estão a aproveitar para se internacionalizar, para se estabelecerem fora do País com escritórios e com centros de competência para exportarem cada vez melhor. Tem sido um movimento muito profissional e que está a dar frutos.

A marca "Portugal" carece de notoriedade internacional?
Há países em que o Alentejo sobressai por si só. É o caso do Brasil, onde o Alentejo vende vinhos sem necessitar da âncora de Portugal. Mas há outros países onde isso não acontece. Por isso é muito importante que a categoria "Portugal" se estabeleça primeiro para que o Alentejo se possa depois apresentar. A imagem do País ainda é uma dificuldade em alguns mercados, como os Estados Unidos, o Canadá ou a China, que têm pouco conhecimento das regiões vitivinícolas portuguesas.

No mercado nacional, como se luta contra a estagnação?
O vinho tem de encontrar novas formas de estar presente. Nos bares, por exemplo, podia estar mais presente. Podia apostar mais nos estabelecimentos noturnos. Ainda há muito a explorar no mercado nacional.

A certificação tem vindo a ganhar relevância na região?
É importante que a certificação se faça cada vez melhor, garantindo a origem e qualidade dos produtos que saem da região. A elevada qualidade dos vinhos do Alentejo também tem ajudado na evolução da certificação. O produto é bom, mas há que existir um bom serviço de fiscalização, de controlo, certificação e promoção dentro da região e pretendemos continuar a fazer isso de forma muito séria. Hoje, o nome Alentejo agrega valor a um produto.


21 970 hectares de vinha que asseguram a produção de vinho alentejano
43,2% quota de mercado nacional do vinho alentejano em 2012
97% de vinho produzido no Alentejo com certificação de denominação de origem (DOC) ou regional (IG)