XXXIV Congresso Mundial da Vinha e do Vinho
Decorreu em Portugal, de 20 a 27 de Junho, o 34.º Congresso Mundial da Vinha e do Vinho que reuniu cerca de 700 especialistas de todo o mundo de mais diversas áreas que fizeram do Porto, o centro mundial do vinho.

Este evento que se realizou em Portugal pela 5ª vez, contou com a apresentação de mais de 460 comunicações apresentadas por técnicos, investigadores, enólogos, produtores, comerciantes, arquitectos, designers, académicos e empresários do turismo ligado ao vinho de todo o mundo, abrangendo as diversas áreas temáticas subordinadas ao tema: "A Construção do Vinho - Uma Conspiração de Saber e de Arte".

No decurso da Sessão Inaugural do Congresso, presidida pelo Senhor Ministro da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, o Director Geral da OIV apresentou o balanço do sector vitivinícola mundial, focando as principais tendências e desafios para a fileira mundial do vinho. O crescente desenvolvimento das indústrias vinícolas emergentes da América, Austrália e Ásia, em particular a China, constituem novas realidades com as quais os países europeus têm de se confrontar.

Considerando que se de facto, se o Mundo perdeu cerca de 0,8% da sua superfície vitícola em 2010, e a produção de vinho atingiu o nível de 1998 (263.8 milhões de hectolitros), a fileira vitivinícola pode ainda contar com os consumidores: o consumo mundial de vinho cresceu 0,4% parando a tendência de baixa iniciada em 2007. De entre os cinco principais mercados de vinho, os Estados Unidos, a Alemanha e a China são os que alimentam este crescimento ainda tímido.

O balanço apresentado centrou-se em três categorias de indicadores: superfície vitícola mundial, produção de uvas e mercados do vinho (produção, consumo e comércio internacional), e cada uma destas categorias foi utilizada para classificar os diferentes países com importância no sector, independentemente do seu estatuto relativamente à OIV.

Relativamente às vinhas, verificou-se em 2010 uma regressão quanto à superfície global da ordem dos 61.000 hectares a menos quando comparada com a do ano anterior, que foi de 7.586.000 hectares relativamente aos 7.647.000 hectares de 2009. A Espanha, França e Itália continuam à cabeça das estatísticas mas cederam terreno, enquanto a China, os Estados Unidos e a Argentina, alargaram a área vitícola.

Após um ligeiro aumento em 2008 e estabilização em 2009, a produção global de uvas sofreu um decréscimo de 3% em 2010 (até cerca de 644.9 milhões de quintais), relativamente a 2009 (675.3 milhões de quintais), valores próximos dos de 2007 (665.2 milhões de quintais).

Quanto à produção de vinho, a situação global do sector em 2010 também registou uma interrupção da tendência em alta, que após ter tido um crescimento de 1,1 milhões de hl, entre 2008 e 2009, reduziu em cerca de 7,4 milhões de hl (-2,7%) entre 2009 e 2010.

Por outro lado, o consumo de vinho "recupera" de uma ligeira diminuição global de 3,6% registada em 2009, passando dos 236,5 milhões de hl consumidos em 2009 para os 238 milhões de hl, em 2010.

A evolução das trocas globais de vinho em 2010 foi marcada pelo crescimento de mais de 7% das exportações e de 3,3% das importações, com crescimentos de 6,2 milhões de hl e de 2,8 238 milhões de hl, respectivamente. De facto, após um crescimento ininterrupto desde 2010, as exportações mundiais de vinho mudaram de rumo em 2008 devido à crise económica e baixaram em 2009. Contudo, a tendência em 2010 retomou o crescimento e o volume global de vinhos exportados é bastante superior ao registado em 2006 e nos anos precedentes.  (ver mais)

Em face do impacto da crise na indústria do vinho, os Estados Membros da OIV foram aconselhados a desenvolverem esforços com vista ao cumprimento dos objectivos específicos identificados no plano estratégico trianual da organização, a fim de minimizar o impacto desfavorável da crise económica global sobre os produtores e consumidores.

Ainda na abertura do Congresso e sob o tema do mesmo, o economista Manuel de Novaes Cabral abordou o «O Vinho na Construção dos Territórios», seguido pelo professor catedrático Fernando Sena Esteves que «A Ciência e o Vinho» e pelo arquitecto Álvaro Siza Vieira que abordou a integração dos edifícios na paisagem, os materiais e as necessidades funcionais de «As Construções do Vinho».

De salientar as conferências plenárias que constituíram um momento alto deste congresso e que abordaram os seguintes temas: "Genética nas Vinhas", pelo Doutor José Eduardo Eiras Dias, Coordenador Científico do Instituto Nacional Recursos Biológicos (INRB/INIA) de Portugal, "Yeast: The wine builder" pelo Professor em Biotecnologia do Vinho Florian Bauer, da Stelllenbosch University, South Africa e "Flavour: a Brain Construct", pela Professora Emérita Ann Noble da, University of California, USA

As diversas sessões de trabalho foram organizadas cientificamente em cinco áreas temáticas: Viticultura, Enologia, Economia & Direito, Saúde & Vinho e Arquitectura para o Vinho tendo registado grande participação. Em complemento, foram proporcionadas aos congressistas diversas iniciativas de cariz cultural e social, como o Jantar "Wines of Portugal" nos jardins de Serralves, a Noite Cultural na Casa da Música, Visitas às Caves do Vinho do Porto, Visitas Técnicas às regiões do Douro e Vinhos Verdes, com visitas a Adegas objecto de intervenções arquitectónicas.

A OIV é uma Organização Intergovernamental Internacional de âmbito científico e técnico, de competência reconhecida no domínio da vinha, dos vinhos e demais produtos vitivinícolas, que congrega actualmente cerca de meia centena de Estados Membros e Observadores, sendo sucessora do "Office International de la Vigne et du Vin" que se regeu até 2001, pelo Tratado que Portugal subscreveu em 1924.

Assim, no dia 24 de Junho, a OIV realizou a sua 9.ª Assembleia-geral que contou com a participação de delegados de 35 dos 44 países que actualmente fazem parte desta Organização Internacional, de entre os quais Portugal, cuja ligação e acompanhamento dos assuntos relacionados com esta organização é assegurada pela sua estrutura nacional/ Comissão Nacional da OIV (CNOIV), presidida pelo IVV e constituída por membros de diversas entidades públicas e privadas relacionadas com o sector vitivinícola.

No decurso da sessão, foram aprovadas 25 Resoluções da maior importância para o sector vitivinícola, com especial enfoque nos domínios do desenvolvimento sustentável da indústria, da saúde pública e da informação ao consumidor.

Do conjunto dessa Resoluções, 18 eram provenientes da Comissão II - Enologia, das quais 8 eram referentes à Subcomissão de Métodos de Análise (SCMA), importando realçar que nesta área, as matérias aprovadas e publicadas pela OIV, são adoptadas directamente pela UE na sua regulamentação.

Na área da Viticultura - Comissão I, foi aprovada apenas uma Resolução (Linhas directrizes da OIV para uma viticultura sustentável: produção, armazenamento, secagem, transformação e acondicionamento da uva de mesa e uva passa).

Na área de Economia e Direito - Comissão III, foram aprovadas 3 Resoluções referentes à Rotulagem dos Vinhos, nomeadamente na utilização dos pictogramas, à informação eficaz para os consumidores e ainda uma terceira relacionada com a definição dos Vinhos Aromatizados.

Na área da Segurança e Saúde - Comissão IV, foi aprovada uma Resolução que estabelece os procedimentos a implementar pela OIV para a avaliação toxicológica dos auxiliares tecnológicos e dos aditivos utilizados nos produtos vínicos e da área Científica e Técnica foram aprovadas 2 Resoluções referentes ao Código OIV de boas práticas vitivinícolas para minimizar a presença de aminas biogénicas nos produtos vínicos e ainda à apresentação de um procedimento de acompanhamento - Ficha de apresentação de um ante-projecto de resolução relativa à aprovação, modificação ou revogação de uma prática enológica.

Do conjunto das Resoluções aprovadas, salienta-se a importância das matérias relacionadas com as práticas enológicas e métodos de análise, que permitem tornar os vinhos portugueses mais competitivos no contexto internacional, uma vez que são automaticamente reconhecidas para efeitos de comércio com países terceiros; ao nível da informação ao consumidor, destaca-se também a importância da utilização de pictogramas na rotulagem dos vinhos, resolução há muito esperada pelo sector vitivinícola.

Ainda no decurso da sua AG, a OIV atribuiu medalhas de Mérito a um conjunto de personalidades, com destaque para a medalha de mérito entregue ao Professor Doutor Fernando Bianchi de Aguiar, Presidente Honorário da OIV. Foram distinguidos ainda o jornalista e autor indiano Cavaliere Subhash Arora, o diplomata eslovaco František Lipka, o Professor Antonhy Spawton e a Presidente da Associação "Wine and Society" Marie-Christine Tarby-Maire.

O Congresso encerrou com um Jantar de Gala na Bolsa, que contou com a presença da Senhora Ministra da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território, Doutora Assunção Cristas.

Na ocasião foram atribuídos os prémios às melhores "comunicações orais" e às melhores "comunicações breves" em cada uma das cinco secções do Congresso: Viticultura, Enologia, Economia e Direito, Saúde e Vinho e Arquitectura/Paisagem e vinho, 5 dos quais a autores portugueses, do Instituto Nacional de Recursos Biológicos I.P., da Universidade Lusófona do Porto, da Universidade Fernando Pessoa, da empresa Symington Family Estates e do Departamento de Física da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.

O Congresso foi organizado pela "Um Porto para o Mundo - Associação para o Congresso OIV 2011", que integrou o Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, Instituto da Vinha e do Vinho, Universidade do Porto, Câmara Municipal do Porto, Ordem dos Arquitectos - Secção Regional Norte, Associação das Empresas do Vinho do Porto, Associação para o Museu dos Transportes e Comunicações, ALABE - Associação dos Laboratórios de Enologia, Associação de Turismo do Porto.