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Vinho de Carcavelos resiste a extinção
Depois de, em 1987, ter estado em risco de extinção, o centenário Vinho de Carcavelos atravessa agora fases distintas nos dois concelhos produtores, Cascais e Oeiras, onde se prevêem novas medidas para a sua expansão

Segundo a enóloga responsável pela produção do vinho de Carcavelos na antiga Estação Agronómica Nacional (EAN), em Oeiras, Estrela Carvalho, até 1987 «tudo o que havia do vinho de Carcavelos estava esquecido», estando «quase em extinção», devido ao «crescimento imobiliário».

Estrela Carvalho apontou o «cimento» como o principal problema à sobrevivência do vinho de Carcavelos.

Tanto as vinhas da EAN, no concelho de Oeiras, como as de quintas com gestão particular, em Cascais, «têm prédios à volta, quase dentro das vinhas».

A enóloga considerou que, apesar de as vinhas estarem «completamente ameaçadas pela expansão urbanística, se as entidades se interessarem e investirem não há qualquer problema. Os terrenos estão todos ocupados, mas há que preservar o que há disponível».

Em Oeiras, prevê-se a expansão da vinha, que hoje ocupa quase 13 hectares, para os 20 hectares em 2014, aumentando, consequentemente, a produção de vinho de 20 mil litros para 110 mil.

Além disso, a autarquia prevê a criação de uma Confraria para iniciar a comercialização do vinho sob a marca 'Conde de Oeiras'.

Questionada sobre como é que este vinho de baixa produção competirá com outros vinhos generosos de produções maiores, como o vinho do Porto e o Moscatel de Setúbal, Estrela Carvalho negou que seja necessária uma produção grande para que o vinho vingue no mercado.

«É um vinho muito bom, mas vai depender da promoção que dele façam», rematou.

Já no que respeita às produções existentes no concelho de Cascais, o cenário altera-se, dado que as dificuldades de venda têm acrescido.

Para o produtor António Gomes, caseiro há 21 anos da Quinta da Ribeira de Caparide, propriedade do Patriarcado de Lisboa, as dificuldades na venda do vinho fazem com que a produção diminua de ano para ano e, por isso, este ano optaram por não produzir o Vinho de Carcavelos.

«Ainda estamos a vender a produção de 1995. O de 2004 está todo engarrafado também para vender e o de 2008 ainda está nas pipas e, por isso, este ano não produzimos, apesar de ter sido um ano bom, porque as uvas estavam uma maravilha», esclareceu o produtor que reconhece que o preço de venda da garrafa (17,50 euros) é «bastante caro para esta altura de crise».

Obtido através das videiras que cultiva também no Mosteiro de Santa Maria do Mar e nas quintas privadas da Samarra e dos Pesos, António Gomes considera que «o maior problema» do Vinho de Carcavelos é «a má divulgação», esperando que se aposte em projectos municipais «para que se possa continuar a produzir. Caso contrário, a tendência é mesmo para acabar».

De acordo com a Câmara Municipal de Cascais, o Museu da Vinha e do Vinho de Carcavelos irá situar-se na Quinta do Barão, em Carcavelos, e «será um museu municipal pluridisciplinar que dará a conhecer o território da Região Demarcada, as castas, a produção vinícola e as memórias que a comunidade tem do lugar e do Vinho».

«No âmbito deste Plano de Pormenor está prevista a criação de um parque urbano com seis hectares, dos quais cinco irão destinar-se ao plantio de vinho de Carcavelos», para a «importante recuperação deste ex-libris», esclareceu a autarquia.

O Vinho de Carcavelos é um generoso com um teor alcoólico entre os 15 e 20 por cento, «de cor topázio, com aroma equilibrado e com bastante persistência na boca. É um vinho que pode ser classificado como um vinho excelente», segundo os enólogos, tendo conhecido o seu apogeu no século XVIII, por iniciativa do 1.º Conde de Oeiras e Marquês de Pombal, Sebastião José de Carvalho e Mello.

Fonte: Lusa / Sol