Considerando que a ViniPortugal foi, é e continuará a ser o principal interlocutor na promoção dos vinhos portugueses - dentro e fora de portas -, Francisco Borba, presidente da ViniPortugal, junta aos mercado enumerados pelo estudo Porter como prioritários para a exportação dos vinhos portugueses, Angola, o eixo asiático e Canadá.
Certo é que para o presidente da ViniPortugal, "o produtor não deve deixar que o seu produto esteja à disposição do consumidor acima daquilo que é razoável".
Hipersuper (H): Está à frente da ViniPortugal há mais pouco mais de um ano. Que balanço faz e que alterações ao modus operandi da associação fez?
Francisco Borba (F.B.): Foi um trabalho de continuação da direcção anterior no que toca ao respeito integral do orçamento acordado na assembleia-geral. Na área da gestão não fiz muitas alterações, mas fiz aquilo que considero que sejam alterações importantes e que têm a ver mais com a minha forma de estar na gestão.
As alterações mais importantes foram de procedimentos na área administrativa e financeira, de relacionamento interno dos quadros da ViniPortugal e na cooperação institucional.
H: A ViniPortugal continua a ser o principal interlocutor e veículo de promoção dos vinhos portugueses?
F.B.: Foi, é e vamos continuar a ser o principal interlocutor na promoção dos vinhos nacionais.
H: Tanto interna como externamente?
F.B.: Exactamente, mas com um foco maior no mercado externo.
H: Este ano fica marcado pela apresentação e primeira aparição da marca "Wines of Portugal", neste caso na ProWein, na Alemanha.
F.B.: Correcto. Foi a primeira aparição pública da marca "Wines of Portugal". Foi na ProWein, na Alemanha, uma das maiores feiras de vinho do mundo.
A marca foi muito bem sucedida, de tal modo que a sensação que se tinha da representação portuguesa era muito maior do que em anos anteriores, quando em número de agentes económicos estariam somente mais cinco ou seis agentes.
O facto de estarmos todos debaixo do mesmo logo e dentro de um espaço comum e, isto é muito importante, sem perda de identidade das regiões, trouxe mais-valias significativas.
Aproveitei para falar com todos os agentes económicos na feira e fiquei muito bem impressionado como tinham percepcionado a feira. Bons contactos, boas probabilidades de negócio, alguns contratos realizados durante a feira. Naturalmente que a marca "Wines of Portugal" não foi a única responsável por este boa participação, mas foi muito importante.
H: Importante, também, foi a presença do Vinho do Porto no stand comum da "Wines of Portugal"?
F.B.: Pela primeira vez. Na minha primeira resposta, referi que uma das principais preocupações era a da cooperação institucional. Nós temos um entendimento cordial com o Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) para podermos compatibilizar o nosso calendário de acções e, nomeadamente, fazermos um esforço adicional para estarmos numa presença conjunta nas feiras, como aconteceu na ProWein e na London Wine Trade Fair.
H: Essa cooperação não deixa de ser benéfica?
F.B.: Claramente. O objectivo é apresentar os vinhos de Portugal como um todo sob a marca "Wines of Portugal". Sem perda de identidade das várias regiões que estão representadas: os vinhos do Alentejo continuam a marcar a sua identidade, os do Douro a mesma coisa, os do Tejo também, tal como as restantes regiões. Mas todos são vinhos de Portugal.
H: Esta marca era fundamental para dar a entender ao consumidor e importadores o que são os vinhos portugueses?
F.B.: O que é fundamental é que Portugal tenha visibilidade lá fora enquanto País produtor de vinhos. Este é o primeiro e mais importante passo. Se os vinhos portugueses não forem conhecidos, a promoção e a tentativa de venda e exportação dos agentes económicos é muito complicada.
H: Os mercados prioritários de exportação continuam a ser os mesmos ao fim de sete anos de apresentação do estudo Porter?
F.B.: Aos que foram apresentados no estudo Porter, em 2003, ou seja, Reino Unido, EUA, Brasil e Alemanha, acrescentaria Angola, eixo asiático e Canadá.
Isto não implica, contudo, que o estudo Porter não precise de ser revisto ou actualizado, eventualmente numa nova filosofia para podermos identificar a médio prazo uma estratégia mais fresca, mais actual e mais eficaz.
O mundo muda, os consumidores mudam e as regras em que a sociedade moderna vive hoje em dia implica que tenhamos um planeamento estratégico e que seja sistematicamente aferido para sabermos se estamos no caminho certo e se as medidas que estamos a tomar num determinado mercado são as mais adequadas e eficazes.
H: Numa eventual revisão, acha possível a saída de alguns mercados definidos como estratégicos em 2003 e a entrada de novos mercados?
F.B.: É mais provável a entrada de novos mercados do que a saída de mercados que foram referidos no estudo Porter.
Sinto que em todos os mercados onde actuamos, existem reais potenciais de aumento das nossas exportações.
H: E Portugal tem capacidade para ir a jogo em todos esses mercados?
F.B.: Temos de criá-la.
H: E o que falta?
F.B.: Em primeiro lugar, um conhecimento concreto dos mercados em que devemos actuar. Depois como devemos actuar nesses mercados e que recursos financeiros são necessários para podermos colocar em prática essa actuação. Finalmente, ir à procura desses recursos financeiros para conseguirmos cumprir esses programas.
Em relação às empresas, se querem exportar, sobreviver e progredir, têm de, cada vez mais, fazê-lo de forma muito profissional. A concorrência é muito apertada e se não estiverem no terreno de forma muito profissional, as possibilidades de sucesso são ínfimas.
H: Falou no eixo asiático?
F.B.: Sentimos um excelente potencial de crescimento das exportações no Brasil e temos indicadores seguros de que no mercado asiático também vamos crescer.
H: Mas o mercado asiático é muito vasto?
F.B.: É vasto, é difícil, mas tem potencial. Trata-se é de um mercado de enorme dimensão e com muito espaço para ser ocupado.
H: Como é que a ViniPortugal olha para a concorrência mundial, nomeadamente, para os vinhos do Novo Mundo?
F.B.: A nós não nos preocupa muito olhar para o lado. O que tentamos perceber é quais são as características dos mercados e tentar ajustar os nossos programas de promoção às características desses mercados. Colateralmente, tentamos esclarecer os agentes económicos de qual a melhor forma de abordagem e trabalhar esses mercados.
H: Mas para isso é fundamental conhecer as tendências de consumo desses mercados? A ViniPortugal faz essa prospecção nos diversos mercados?
F.B.: Esse é um trabalho de casa que nós recomendamos aos agentes económicos e não à ViniPortugal. Eles próprios, em função da sua capacidade produtiva e escolha estratégica, têm de procurar perceber quais são os mercados onde os seus produtos se adequam e quais são as preferências e apetências desses mercados para poderem produzir em função daquilo que esses mercados querem consumir.
Estou a falar do aspecto qualitativo, como também na relação preço/qualidade dos vinhos. Há que ter sempre em conta o poder de conta dos consumidores dos respectivos mercados.
H: Os vinhos portugueses devem de ir os mercados expondo a sua diferença ou os agentes económicos devem ajustar o vinho ao mercado para onde querem exportar?
F.B.: Respondo-lhe da seguinte forma: o tempo do orgulhosamente sós já passou. Nós temos de perceber os mercados e adequar os nossos produtos àquilo que os mercados gostam de consumir.
Temos de aproveitar as nossas características, as nossas castas portuguesas, nomeadamente a Touriga Nacional em relação à qual estamos a fazer um grande esforço na tentativa de ligá-la ao País e torná-la a casta portuguesa por excelência.
Portugal, sendo um País tão pequeno tem regiões produtivas com características próprias muito bem identificadas e diversificadas.
H: Como olha para o TOP 10 dos vinhos mais vendidos em Portugal e onde só é possível encontrar vinhos abaixo dos 5 euros. O consumidor português gasta pouco em vinho ou os super e hipermercados são os locais onde é possível comprar os vinhos a preços mais convidativos?
F.B.: Vou-lhe responder como consumidor normal de vinho e frequentador da distribuição moderna. Encontro vinhos de boa qualidade, de gama média/alta, em quase todos os super ou hipermercados. Genericamente consigo um bom vinho nessas lojas.
Se quiser comprar uma coisa mais rara, mais evoluída, talvez tenho outras opções de escolha numa garrafeira, porque se trata de um local especializado.
H: Mas considera 5 euros por uma garrafa de vinho um preço justo, baixo ou alto?
F.B.: O que me preocupa é que os vinhos tenham uma boa relação preço/qualidade. 5 euros pode ser caro, como pode ser barato ou justo, depende, naturalmente, sempre do vinho.
A mim não me assusta um vinho de 5 euros. Assusta-me se o vinho de 5 euros for muito bom e perceber que poderia e deveria estar numa ordem de preço superior. Do mesmo modo, assusta-me se tiver um vinho de 5 euros e perceber que esse vinho deveria estar mais barato.
Não diria que o preço classifica o vinho, o que digo é que o consumidor deve ser educado no sentido de perceber se o nível de preço se adequa ou não ao vinho que está a beber.
H: Mas na sua óptica o vinho está caro em Portugal?
F.B.: Diria que não. É a mesma coisa de perguntar se o vestuário está caro ou se o calçado está caro. Dependerá sempre do local de compra e da qualidade do produto. A qualidade paga-se, em tudo, e o vinho não é excepção.
Mas insisto, os produtores devem ter uma noção muito correcta da relação preço/qualidade do seu produto.
H: Mas o que acontece é que o produtor, a partir de determinada altura, deixa de ter influência sobre o preço do produto?
F.B.: Pois, mas deveria ter. O produtor não deve deixar que o seu produto esteja à disposição do consumidor acima daquilo que é razoável.
H: Em sua opinião, deveria ser o produtor a definir o preço a que o seu vinho deve ser colocado à venda ao público?
F.B.: Sim. A pergunta que o produtor deveria fazer num restaurante, por exemplo, deveria ser: "a que preço é que me quer comprar este meu vinho para que na carta seja vendido a determinado preço ou não fique acima de determinado valor?". A partir daí é o jogo comercial.
Agora, se um produtor sabe que o vinho vale 5 euros e está numa carta de vinho a 20, é um autêntico disparate.
H: Os vinhos portugueses têm sido beneficiados pelo facto de o consumidor nacional não ter ainda descoberto ou sentir curiosidade por vinhos internacionais?
F.B.: Não sei, tenho dúvidas. Se as entidades que comercializam os vinhos - estamos a falar da restauração, garrafeiras e distribuição moderna - tiverem o cuidado de terem bons conselheiros nas provas dos vinhos, colocarem os vinhos numa boa relação preço/qualidade, os vinhos portugueses não se envergonham de estar a par dos vinhos estrangeiros, muito pelo contrário. Tenho quase a certeza que seria um factor de comparação positivo para os vinhos portugueses.
H: Como é que olha para o aumento dos vinhos com marca da distribuição? Isso pode prejudicar a notoriedade e prestígio dos vinhos portugueses?
F.B.: Não gostaria muito de comentar essa situação, porque essa é uma decisão mais comercial e que para os produtores se deve a uma estratégia, mercê de uma necessidade de escoarem os seus produtos. Eu gostaria de ver os vinhos portugueses ligados a uma marca de produtor. Deixemos os genéricos para as farmácias.
Fonte: Hipersuper / Victor Jorge
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