Início\ Informação \ Notícias
Douro quer produzir aguardente para o Vinho do Porto
A produção de aguardente na Região Demarcada do Douro para o vinho do porto pode ser a "tábua de salvação" para os pequenos e médios viticultores, bem como para o sector cooperativo. Por outro lado, pode trazer mais genuinidade ao famoso néctar, já que a aguardente que possui é importada. A Casa do Douro, Conselho Interprofissional, Unidouro e técnicos do sector são unânimes nas vantagens. Há estudos que garantem que só o Douro gasta cerca de 4 milhões de euros na importação de aguardente para o vinho do porto.

Na última reunião do Conselho Interprofissional da Casa do Douro, o assunto foi discutido e aprovado por unanimidade. Para o efeito, vai ser criada uma Comissão que irá estudar e concertar estratégias. Um dos estudos aponta para a viabilização da produção de aguardente que irá garantir custos de produção mais baixos e tornar o vinho do porto mais genuíno. O antigo Presidente da Casa do Douro, Mesquita Montes, e o empresário Arlindo Castro, são os defensores e criadores deste estudo. "Além da rentabilidade para o pequeno e médio viticultor, interessa salvaguardar os padrões de qualidade, da genuinidade do vinho do porto. A partir da década de 40, o vinho era beneficiado com aguardente da própria região, mas deixou de ser porque o Estado Português nos obrigou a consumir aguardente do Sul do país, que havia em excesso e nós fomos obrigados a consumi-la. A questão é saber se o vinho do porto não deve retornar às suas origens? Em defesa da qualidade, da genuinidade?".

Mesquita Montes defendeu a sustentabilidade do seu projecto, com a implementação do cultivo de vinhas para a produção exclusiva de aguardente. "A questão que se levantava era criar novamente um sistema de auto-regulação da própria região. Na região, temos área de vinha suficiente para produzir vinho e aguardente. Mas, não temos produção suficiente, porque há vinhas na região que não estão granjeadas, e outras simplesmente foram abandonadas. A região já produziu 330 mil pipas em 1996, agora andará à volta das 250 a 260 mil pipas. Portanto, não é difícil, uma vez que em 1965 tínhamos 30.000 hectares de vinha, hoje temos 47.000 hectares de vinha. É evidente que desde que as vinhas estejam bem granjeadas, nós teremos vinha suficiente para produzir aguardente para o benefício, para o moscatel, e para continuar a produzir os espumantes e os DOC, que também estão a ter uma boa aceitação no mercado.

Aguardente vai custar sete vezes mais

Este técnico exemplificou a questão dos preços da aguardente e o seu reflexo no produto final. "Posto o problema desta forma, estando assegurado o rendimento dos agricultores, a questão que se levanta é os efeitos que isto vai ter na exportação. Porque não há dúvida nenhuma que, com vinhos a 250€ a pipa, a aguardente vai custar sete vezes mais. Quer dizer que deixamos de ter aguardente a 1,20€, como temos nesta altura, e vamos passar a ter aguardente a 4 ou 5€ o litro. É evidente que o vinho do porto pode suportar estes valores. Nós concluímos que em 1933 o preço por litro da aguardente era 7,67 escudos, isto é, a aguardente representava 74% do custo do vinho. Em 2006 só representava 13%. É esta a questão que temos de tomar em consideração. Se formos ver a estatística, a aguardente hoje custa um euro, em 1990 custava 547$00 o litro, era muito mais cara que hoje. Isto é, o vinho do porto sempre viveu com a aguardente cara, porque é que hoje não pode viver? Agora é subsidiada, antigamente não era".

Mesquita Montes considerou ainda que as 80 ou 90 mil pipas a serem beneficiadas, seriam precisas aproximadamente 130 mil pipas de vinho de mesa para destilar em aguardente, ou seja, das 300 mil pipas, cerca de metade iria para aguardente. São 80 a 90 mil pipas que vão para beneficiar e depois ainda ficam as tais 80 mil que são para DOC, moscatel, espumantes. Isto pressupõe que, numa agricultura em que há dinheiro, as vinhas passam a ser bem granjeadas. Nos 47.000 hectares que temos neste momento de vinha, uma produção na ordem de 350 mil pipas por ano, em anos bons, poderemos chegar às 400.000 mil. Nas 350 mil, então teremos 150 mil para aguardente, 150 mil para DOC, porto, moscatel e espumante", concluiu.

 

"Já há 12 anos que defendemos esta ideia"

O presidente da Casa do Douro, Manuel António dos Santos, deixou bem clara a posição do organismo sobre esta matéria. "Já há 12 anos que defendemos esta ideia. Acho que já perdemos muito tempo, mas agora, finalmente, conseguimos unanimidade no Conselho Interprofissional da Casa do Douro para se discutir este assunto. Este estudo foi um passo enorme que foi dado. Da nossa parte, temos trabalho feito, já recolhemos milhares de assinaturas para apresentar na Assembleia da República para que se faça a legislação necessária para avançarmos. Todos foram unânimes e agora esperamos que as conclusões possam ser no sentido de se fazerem acordos interprofissionais, que possibilitem uma melhoria substancial do rendimento dos viticultores durienses".

Porém, este dirigente voltou a chamar a atenção para a crise na pequena e média produção no Douro. "A situação actual é incomportável e pode levar a Região Demarcada à falência. Muitos agricultores já não sabem o que hão-de fazer, pois as dificuldades são mais que muitas e nós temos de andar depressa".

Para estudar e estabelecer formas de actuação, o Conselho Interprofissional vai criar uma comissão que poderá ter sete elementos.

O presidente da União das Adegas Cooperativas da Região Demarcada do Douro, José Manuel Santos, também vê com bons olhos esta proposta, que poderia funcionar como uma tábua de salvação para o sector das adegas. "É um instrumento importante para o sector e pode ser bom para o sector cooperativo, já que as adegas são aquelas que têm mais vinho de mesa e menos nobres. Isto seria ouro azul e uma forma de comercializar um produto que hoje o mercado, por vezes, não absorve. A destilação para o vinho do porto seria uma forma de resolver a situação financeira das adegas. Além disto, poderíamos aproveitar terrenos existentes exclusivamente para a produção de uvas para destilação". No entanto, este responsável deixou um alerta quanto ao preço final do produto. "Tem de haver algum cuidado para sabermos até que ponto o vinho do porto aguenta o preço da aguardente produzida na região e não vá depois ter constrangimentos comerciais. Em complemento, também será preciso fazer um grande esforço de promoção do vinho do porto, produzido desta forma, e na conquista de novos mercados".

 

Fonte: Expresso / A Voz de Rrás-os-Montes