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Há mais portugueses a não consumir álcool, mas os que "bebem, bebem muito"
Portugal continua a ser um dos maiores consumidores mundiais de bebidas alcoólicas. E se ao longo dos anos as quantidades ingeridas têm diminuído, os excessos continuam preocupantes.

A quantidade de álcool consumida em Portugal está a diminuir. Os responsáveis ligados ao sector da produção de bebidas alcoólicas falam num decréscimo que se verifica há já vários anos e que tende a manter-se. Como explicações para o fenómeno, referem maiores preocupações dos consumidores com a saúde, hábitos que se foram alterando de geração em geração e a actual crise económica e financeira. Manuel Cardoso, vice-presidente do Instituto da Droga e Toxicodependência (IDT), não nega uma diminuição, mas sublinha a necessidade de uma leitura dos dados. Assim, a quantidade total de álcool consumida em Portugal pode até estar a diminuir, mas os valores por consumidor continuam elevados e os hábitos de consumo preocupantes. 

"Segundo um estudo do Eurobarómetro, de Abril de 2010, somos o país da União Europeia que tem maior percentagem de não consumidores em 2009", afirma Manuel Cardoso, apontando 42 por cento de portugueses que não consumiram bebidas alcoólicas. No entanto, "os que beberam, beberam muito", diz o vice-presidente do IDT. "Há, principalmente nos jovens, padrões de consumo de bebidas destiladas em altas doses e em pouco tempo". 

Uma das propostas do Plano Nacional para a Redução dos Problemas Ligados ao Álcool, aprovado em Maio em Conselho Interministerial, visa alterar, de 16 para 18 anos, a idade mínima para consumo de álcool. O vice-presidente do IDT diz que é preciso começar por implementar a lei que existe, e que proíbe o consumo de álcool a menores de 16 anos, e fiscalizar mais. "Depois, far-se-á a alteração, se for adequada e necessária para garantir o cumprimento da lei, e aumentar-se-á a idade dos 16 para os 18 anos". 

Hoje de manhã, é assinada, em Loures, a Carta de Compromisso do Fórum Nacional Álcool e Saúde. Cerca de 40 entidades, ligadas à produção de bebidas alcoólicas, sociedade científica, marketing e publicidade, prevenção e sensibilização, vão apresentar projectos para reduzir problemas ligados ao álcool.

Os números do INE

De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística, o consumo de vinho diminuiu cerca de 33 por cento desde 1992, ano em que foi de 600,5 milhões de litros. Já no que diz respeito à cerveja, registou-se, no ano passado, o menor consumo por habitante, desde pelo menos 2003, com 59 litros, segundo estatísticas da Brewers of Europe (associação que representa cervejeiras de 15 países da União Europeia). No sector das bebidas espirituosas, a quebra no consumo começou a fazer-se sentir no final da década de 90 e, este ano, as empresas queixam-se de uma grande redução. 

Num país que, em 2003, se encontrava, segundo dados do World Drink Trend de 2005, no 8.º lugar, a nível mundial, em termos de consumo de álcool, os hábitos estão a mudar, acreditam responsáveis ligados ao sector. Francisco Gírio é secretário-geral da Associação Portuguesa dos Produtores de Cerveja: "Não existe aumento de consumo de álcool em Portugal desde há muitos anos", afirma. "O consumo de cerveja tem vindo lentamente a diminuir, em média dois a três por cento ao ano." Como explicação para o fenómeno, aponta "as políticas públicas, que existem no sentido da prevenção do consumo abusivo de álcool" e que se têm reflectido "na forma de beber dos portugueses". O responsável acredita que os padrões de consumo de bebidas alcoólicas estão a tornar-se "mais saudáveis", com os portugueses a beberem de forma mais moderada. "Não se abusa das bebidas como há 20 ou 30 anos."

Fonte: Público