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"Os vinhos portugueses ainda têm um défice de notoriedade"
No rescaldo de mais um congresso da OIV, Yves Bénard, com uma longa carreira no mundo do champanhe, diz que a China ajudou a amortecer o declínio do consumo e diz que há regiões que enfrentaram melhor a crise do que outras.

O mercado global já recuperou da crise económica mundial?
O declínio do consumo mundial parou em 2010 e acabou por encontrar um equilíbrio com os níveis de produção mundial. Em consequência disso, atingiu-se uma certa firmeza nos preços do vinho.

Quais as consequências globais e regionais que esta crise teve sobre o mercado do vinho?
A política de reestruturação proposta pela Comissão Europeia resultou na redução de quase 200.000 hectares de vinha na União Europeia e, especialmente, em Espanha, Itália e França. Portugal aguentou-se bem nesta conjuntura de reestruturação. Em geral, algumas regiões e os vinhos têm resistido à crise melhor do que outros, sobretudo devido à forte procura da China.

Apesar da recuperação, continua a ser uma tendência para reduzir a produção e consumo. Esta é uma tendência preocupante?
A produção foi reduzida, principalmente na Europa e alguns países, como a Austrália. O essencial está feito, também em Portugal, e agora devemos começar a assistir, nos próximos anos, a um crescimento moderado do consumo, muito associado ao aumento da procura nos países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China).

Como pode ser combatida essa tendência?
Os produtores devem procurar ser inovadores e demonstrar que o vinho pode evoluir e adaptar-se à procura dos consumidores.

Quais são as regiões vinícolas mais dinâmicas e com maior potencial neste momento?
Têm sido feitos esforços muito significativos em termos de qualidade e há bons resultados alcançados em muitos países produtores e também em algumas regiões, como é o caso, em Portugal, do Douro e do Alentejo. E isto tem sido feito através do desenvolvimento de variedades de uvas locais, como a Touriga Nacional ou Alvarinho. Há outras regiões com aumento de procura na Espanha, assim como os châteaux franceses ou os italianos com denominações famosas, e que continuam a desenvolver-se. Passa-se o mesmo nas grandes marcas da Austrália e Nova Zelândia.

O que mudou no mundo do vinho?
Durante um longo período, os agentes deste mercado procuraram um novo equilíbrio, enquanto assistiam a uma ascensão de países não europeus. Mas a Europa ainda está instalada na liderança. O comércio mundial está sob o controlo da OMC e foi nesse contexto que a OIV se refundou em 2001, para oferecer aos seus Estados-membros (que são agora 45, com a entrada da Índia) e aos operadores as ferramentas e as referências científicas e técnicas para entender melhor o mercado global.

A superprodução deixou de preocupar a OIV?
O excesso de produção deixou de ser uma realidade. Desde a reestruturação a que assistimos nos países europeus, constata-se que não há sequer uma gota em stock, devido a necessidades adicionais de vinhos aromatizados, vinagres de vinho e aguardente de vinho, etc.

Qual é o futuro da produção europeia, num contexto de forte afirmação dos países emergentes?
A produção europeia está na liderança e as vinhas que estavam em dificuldades foram reestruturadas. Há países europeus, incluindo Portugal, em que a dinâmica vinícola ainda lhes vai permitir ganhar quota de mercado.

Portugal aumentou a sua produção nos últimos anos e a qualidade dos seus vinhos. Como colocar Portugal no mercado global?
Portugal é um bom exemplo de um país que, tendo denominações de origem muito apelativas como o vinho do Porto, também produz excelentes vinhos brancos, rosés e tintos capazes de concorrerem com marcas listadas em outros países.

Como é que os vinhos portugueses se poderão afirmar no estrangeiro? Que conselho daria aos produtores nacionais?
À excepção do vinho do Porto, vinho da Madeira e vinho verde, os vinhos portugueses têm um défice de notoriedade. É essencial que estes vinhos marquem presença em exposições internacionais, mesmo que o façam de uma forma colectiva, em certames importantes como aquele que abre esta semana em Bordeaux, o Vinexpo. É também importante que os produtores portugueses desenvolvam marcas e encontrem os importadores certos que tragam o justificado valor acrescentado à produção naciona

 

Fonte: Público