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Romaria d’Agonia: Cortejo com 3.000 figurantes preparado durante seis meses até produz vinho ao vivo
Mais de 3.000 figurantes, distribuídos por uma centena de quadros com 30 carros alegóricos, vão compor, no domingo, o já secular cortejo etnográfico da Romaria d'Agonia que, em 2011, até vai produzir vinho ao vivo.

"Não sei se vai dar para beber, mas pelo menos uma pipa pronta a fermentar vamos ter no fim do cortejo", confessou à Agência Lusa Reis Pereira, o homem que há 17 anos desenha os carros alegóricos do cortejo da festa.


"Os projetos, em desenho e miniaturas, são feitos entre novembro e fevereiro. A partir daí, são estes verdadeiros artesãos da Câmara Municipal que os passam do papel à realidade", explica.


A festa de 2011 está subordinado ao tema "Viana do Castelo - Cidade do Vinho", motivo que vai "tomar conta" de praticamente metade dos quadros do cortejo, com saída marcada para as 16:00 de domingo.


Um dos "carros" mais característicos da edição deste ano será precisamente o da "Pisada", atribuído às freguesias das Terras de Geraz.


"Vamos ter os homens e mulheres a pisar as uvas durante todo o cortejo. Ou seja, vai ser feito vinho ao vivo", adiantou.
Criações que saem da cabeça - e do lápis - , de Reis Pereira, autor destes desenhos criativos desde os seus 47 anos. Sempre de forma voluntária.


"Hoje tenho 64, mas há trinta que ando metido nestas coisas. A família é que paga, porque depois raramente conseguimos [equipa da comissão de festas] estar com eles nesta altura", diz ainda.


Nos armazéns da autarquia, onde é feito todo o trabalho de confeção dos carros alegóricos, os últimos dias foram passados num verdadeiro rebuliço, porque tudo tem de estar pronto para a saída "a tempo e horas".


"É uma questão de responsabilidade e de fazer as coisas bem feitas, à primeira", assume o antigo professor de Trabalhos Manuais e profissional dos Estaleiros de Viana.


As várias dezenas de milhares de pessoas esperadas nas ruas de Viana poderão ver carros tão diversos como o do "Lagar", estrutura milenar descoberta recentemente em Castelo Neiva, ou o da "Nau Torna Viagem", que há 400 anos "levava vinho e trazia bacalhau" nas viagens ao Norte.


Reis Pereira admite a necessidade de ter "alguma imaginação" para passar o tema, todos os anos escolhido, para o papel. Mas sobretudo "muita dedicação" e "trabalho em conjunto".
"Recebo o guião dos meus colegas e a principal preocupação é educa

cional, de desenhar o carro para permitir a quem vai em cima fazer uma representação teatral. As pessoas aprendem alguma coisa a ver o cortejo", assegura.


É necessário ainda acautelar aspetos como a "segurança" de quem vai "em cima dos carros" ou a facilidade dos carros para fazerem manobras. "Mas até mesmo a altura, porque senão podem até nem passar, por exemplo, debaixo da ponte Eiffel", recorda.


No cortejo de domingo, outra alusão ao vinho, e à produção que sempre se fez na região, será feita com um carro dedicado ao barco "água arriba".


Trata-se de uma construção artesanal que até meados do século XX assegurava o transporte de pipas, pelo rio Lima, das terras do interior até à foz, em Viana.

Todo este desfile integra as 40 freguesias do concelho, com 3.000 figurantes, de todas as idades. Muitos são mulheres devidamente trajadas com os típicos fatos de mordoma e senhora minhota, dando cor a um desfile que leva duas horas a percorrer toda a cidade de Viana.


No final, todos os carros, construídos ao longo dos últimos seis meses, retornam aos armazéns, a maioria para serem desmontados.


"Fechamos tudo e vamos embora por uns dias, para descansar. Mas eu não resisto a ver como ficaram os carros, o estado deles. É mais forte do que eu", desabafa Reis Pereira.

Fonte: Lusa