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Depois do susto em junho, a festa do grande vinho no Dão
Tarde ensolarada neste setembro quente mas João Teixeira, pequeno produtor de vinho no Dão, não sente o calor, refrescado pelas expetativas de um "grande vinho para este ano" na região.

Povoa de Moscoso é uma aldeia de fim de caminho, no concelho de Viseu, onde se chega por entre pinhais e vinhedos que só se veem semi-cerrando os olhos, mas é por ele que se chega às encostas solarengas do Rio Dão e onde João Teixeira tem as suas vinhas.

Ainda em junho este produtor temia que o ano fosse "de cão", mas não foi assim e, nos seus vinhedos, em plena encosta do Dão, com as primeiras fileiras de vinha ainda na sombra das casas da aldeia, rejubila com a perspetiva de um ano em grande.

A podridão negra (black rot), doença pouco dada ao Dão, levou-lhe 20 por cento da colheita, mas a qualidade, fruto de um "bom verão", aninhou-se nos seus melhores desejos.

"Vai ser um grande ano, um dos melhores das últimas décadas", aponta João Teixeira, por entre dois cachos atirados para o balde, já ao cair do pano da sua vindima, onde anda com familiares e amigos.

Em São João de Lourosa, também em Viseu, António Lopes Ribeiro, da Casa de Mouraz, um dos poucos produtores de vinho biológico do Dão, com a quase totalidade da produção exportada, também sente um aroma de grande ano no Dão.

Apesar de alguns problemas com a black rot e o míldio em junho, António Lopes Ribeiro sinaliza como fator que conduziu a este desfecho para as vindimas, as condições climatéricas perfeitas, com a chuva a chegar no tempo certo e a temperatura ideal para uma maturação lenta das uvas, "uma das boas características" desta região.

António Mendes, da Comissão Vitivinícola Regional do Dão (CVRD) e presidente da adega de Mangualde, também enche o copo de boas expetativas:  "Este deverá ser um grande ano", acrescentando,  ao tom optimista proporcionado pelas condições climatéricas, "a melhoria tecnológica a que se assistiu nos últimos anos".

Depois de algum susto, as condições climatéricas rearranjaram-se a contento dos produtores e a qualidade consolidou-se, enquanto na quantidade, apesar de algumas pessoas "terem sido severamente afetadas", António Mendes enxerta na conversa que a média dos últimos anos, de mais de 250 mil hectolitros, deverá ser mantida.

O  enólogo e professor da Escola Superior Agrária de Viseu, João Paulo Gouveia, brinda igualmente a um grande ano porque a vindima de brancos está concluída e já há garantia de ter sido uma "colheita excelente".

E no que respeita aos tintos, cujas vindimas decorrem e devem estar concluídas dentro de poucos dias, uma súbita alta nas temperaturas, que já não afetaram os brancos, proporcionaram uma concentração da uva, deixando antever igualmente um bom ano na região do Dão.

Mas o enólogo adverte para a necessidade de mais investigação, não por causa das doenças mas também porque as alterações climatéricas estão a antecipar as vindimas em mais de duas semanas em comparação com há duas décadas.

 

Fonte: Lusa