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Com um sector em declínio e apertos financeiros, Adega Cooperativa de Chaves continua a produzir vinho
Mesmo com pagamentos de colheitas passadas em atraso, os associados da Adega Cooperativa de Chaves decidiram unir-se num momento de crise e abrir mais uma época de vindimas no concelho.

Quilos e quilos de uva fermentaram nas ânforas de cimento da Adega Cooperativa de Chaves, uma das mais antigas e tradicionais da região, durante a época oficial de vindimas, que decorreu entre 20 de Setembro e o feriado de 5 de Outubro. Este ano, a colheita rendeu mais de 500 mil quilos de uva, confirma a presidente da direcção da Cooperativa, Maria José Barros, actualmente em funções até à realização de novas eleições.

Devido ao clima quente sentido nas vindimas, as uvas apresentam "melhor qualidade" e "grau mais elevado" (em média 13), mas um Verão mais frio do que o habitual ditou uma quebra de rendimento em algumas zonas do concelho, avalia a engenheira agrícola, que trabalha há 18 anos na adega flaviense. "Este ano, um quilo de uvas não dará os 0,75 de vinho". Seguindo a "ditadura" do mercado, a Cooperativa de Chaves tem fixado o preço das uvas aos produtores a 25 cêntimos/kg, valor que deverá manter-se este ano, acredita ainda Maria José Barros. "Estamos a ser muito procurados pelas ‘bodegas' dos espanhóis, que também registaram quebra de produtividade", explica.

 

Um sector em agonia com quebra de produtividade na ordem dos 30% desde 2008

Com cerca de 2000 associados, a cooperativa conta com cerca de 600 produtores activos, ou seja, os que entregam sempre as uvas e "estão do lado da Cooperativa nos bons e nos maus momentos", define Maria José Barros. A maioria é do concelho de Chaves, mas também há viticultores de Carrazedo de Montenegro, no concelho de Valpaços, e Boticas.

Se o número de produtores a entregar uvas até se tem mantido, as campanhas dos últimos três anos foram marcadas por uma quebra de produtividade na ordem dos 30%, admite a dirigente. Os números não mentem: no ano passado a Cooperativa recebeu cerca de 550 mil quilos de uvas, em 2005 recebia um milhão e 500 kg: o dobro.

A lenta agonia do sector vitivinícola na região explica-se pelo abandono da actividade por viticultores envelhecidos, o arranque de vinhas por produtores que recebem subsídios do Estado e pelo clima, um factor que torna sempre incerto o rendimento da agricultura. Há também quem produza para consumo próprio. "Temos associados que só utilizam a Cooperativa quando não conseguem vender fora. É um número significativo porque estamos numa zona fronteiriça. Só pedimos que não vejam a Cooperativa para entregar o que não presta...", lamenta Maria José Barros.

O abandono por arranque da vinha é cada vez mais significativo, pois o preço do produto final compensa cada vez menos os encargos fixos da produção de uva. Mesmo com ajudas, "os custos dos pesticidas, herbicidas e gasóleo estão a subir em flecha e o preço das uvas é o mesmo de há 10 anos. Isso não dá ânimo nem força a ninguém para trabalhar...", nota Maria José Barros. Nas contas dos viticultores, entra ainda o custo da mão-de-obra, já que "grande parte das vinhas ainda são tradicionais. Tudo é feito manualmente".

Ao contrário de outras regiões vinhateiras, como Valpaços e Douro, hoje com "grandes áreas bem implantadas e infra-estruturas adequadas à cultura", no concelho de Chaves não foram feitos, "no tempo oportuno", investimentos na modernização da produção, nota a dirigente da Cooperativa. Os poucos que se aventuraram no negócio do vinho investiram em adega e marca própria. E os jovens? Serão cerca de 10% a lançar-se na produção, ou seja, "em percentagem muito inferior relativamente aos que abandonam a actividade", lamenta Maria José Barros.

 

Sem estratégia de marketing, Cooperativa rema contra o mercado

Encostas do Brunheiro, Flavius e São Neutel. Estas são as três marcas que a Adega Cooperativa de Chaves comercializa, em garrafas e a granel, actualmente. Da campanha 2010, foi vendido 40% do vinho, o resto está em stock na Adega. O motivo é sempre o mesmo: uma concorrência agressiva. "Os nossos vinhos são muito acessíveis, mas as grandes superfícies não apostam nos produtos da região e querem-nos a preços muito baixos, o que não é compensador para a Cooperativa", explica Maria José Barros. Por isso, o vinho de Chaves é essencialmente vendido para o pequeno comércio e restauração local, bem como a estabelecimentos da região Norte.

Os restaurantes locais até beneficiam do preço de sócio no acto de compra, mas não apostam o suficiente em servir vinhos flavienses à mesa, critica Maria José Barros. Contudo, a dirigente também admite uma "falha de promoção e marketing" da parte da Cooperativa. "Nos últimos anos, o vinho de Chaves não teve a rentabilidade que devia ter", assume. Faltou trabalhar uma imagem de marca, que continuou a não ser uma aposta da actual direcção dadas as preocupações financeiras [ver texto ao lado].

Mesmo não sendo de uma região demarcada, como Valpaços, Maria José Barros garante que o vinho de Chaves é apreciado, "tem boas castas" e "boa qualidade". E remata acendendo uma chama de esperança: quando a Cooperativa alcançar a tão desejada estabilidade financeira, será nomeada uma equipa para corrigir a sua maior falha: montar uma estratégia de promoção do vinho para "dar aos associados aquilo que realmente merecem: o melhor preço para o seu trabalho".

 

Fonte: http://diarioatual.com