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Vinhos portugueses "assaltam" Montreal com ambição de alargar oferta
De armas e bagagens, 40 vitivinicultores portugueses vieram a Montreal, no Canadá, para participar na grande mostra internacional de vinhos "Grande Dégustation de Montréal", que este ano escolheu Portugal como país em destaque.

As "armas" são o vinho que trouxeram, com a ambição de convencer o palato de meros curiosos e amantes exigentes.

Sob a imagem da marca oficial "Vinhos de Portugal" e com a organização da ViniPortugal, a comitiva portuguesa, liderada por presidentes das empresas produtoras, põe à prova 250 vinhos nacionais de 11 regiões, incluindo "Portos" e "Madeiras".

No recinto da feira de três dias, que termina hoje à noite no Palácio dos Congressos da cidade, os vinhos portugueses não passam indiferentes a ninguém, ocupando um sexto da zona das bancas de vinhos.

"A escolha de Portugal como país convidado de honra da 'Grande Dégustation de Montréal' é uma oportunidade única para os vinhos portugueses, pois este é o único salão que permite fazer negócios diretamente", salientou à Lusa, Carlos Ferreira, o restaurador português de maior sucesso em Montreal e porta-voz da presença portuguesa neste evento.

"Aqui está representado o melhor vinho de Portugal", considerou, preconizando que os vinhos portugueses se devem dirigir a um nicho onde tem mais hipóteses de êxito, "o da média-alta" e devem competir com base na relação preço-qualidade, que é excelente".

Para Miguel Nora, gestor da ViniPortugal, num mercado muito competitivo de vinhos como o canadiano, a estratégia para o êxito português tem de passar pelo "posicionamento em termos de qualidade, pelas castas próprias, pela ligação à gastronomia, e pelo preço-qualidade", apontou à Lusa.

Embora apetecível, o mercado canadiano apresenta características que dificultam a entrada de vinhos estrangeiros, desde logo por muitas províncias sujeitarem a venda de bebidas alcoólicas a monopólio governamental, como é o caso de Ontário, Montreal e Columbia, impondo rigorosas restrições legais e elevadas taxas de imposto com efeito imediato nos preços de venda ao público.

Presente na mostra, o produtor Esporão, há 12 anos a vender para o Canadá, realçou como a diferença de impostos sobre o vinho em várias províncias faz variar o preço, dando como exemplo, o vinho "Alandra Tinto", de 7,6, 9,5 dólares e 12,5 dólares canadianos.

João Roquette, administrador delegado do grupo Esporão, enunciou à Lusa que o objetivo para o Canadá é expandir, pretendendo listar em breve o "Defesa" tinto.

Os monopólios de venda no setor também dificultam a entrada nos mercados, devido à imposição de regras seletivas.

Que o diga a Casa Agrícola Alexandre Relvas, do Redondo, no Alentejo, que, embora tenha já dois vinhos em exportação privada, desde há três anos pretende obter licenciamentos para os vinhos "Ciconia" e "Montinho" no Quebeque.

"Concorremos aos concursos, mas ainda não conseguimos", frisou à Lusa Alexandre Relvas, sabendo que, entre outras condições, só o lançamento de cada vinho implica um pagamento inicial de 200 mil dólares (157 mil euros).

"O Quebeque é um mercado muito exigente, muito profissional e muito seguro", resumiu Victor Damião, presidente da direção da Adega Cooperativa de Cantanhede, sobre esta região que é o seu principal importador estrangeiro e onde busca crescente presença.

Também boa conhecedora deste mercado, a empresa Poças tendo aumentado as exportações dos vinhos de mesa, indicou Pedro Poças Pintão, diretor comercial, mas constatou a quebra genérica nos "Portos" verificada nos últimos anos.

Quase sempre ausentes em certames de vinho no Canadá, os vinhos da Madeira marcaram presença desta feita com a "Madeira Wines Company".

Ricardo Tavares, diretor de vendas da "Madeira Wines Company", empresa que engloba as marcas "Blandy's", "Cossart Gordon", "Leacoks" e "Miles", referiu ser impossível comparar o peso da presença internacional dos "Portos" e dos "Madeiras".

Por "cada cem garrafas de Porto vendidas, o Madeira só vende 0,7 por cento", nem chega a uma garrafa, disse.

Por isso, quer dar visibilidade aos "Madeiras", mas é muito seletivo na colocação de produtos. Num exemplo, um dos poucos "Blandy's" disponíveis no Quebeque, o "Malvasia de dez anos", custa 51 dólares.
Iniciada na quinta-feira, a "Grande Dégustation de Montréal", destinada a profissionais e ao público em geral, encerra esta noite.

Após Montreal, metade da delegação portuguesa dirige-se para outro evento no Canadá, o "Gourmet, food and wine Expo", que abre no dia 15 em Toronto.

 


Fonte: Lusa