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Castas portuguesas têm futuro promissor
Portugal é o país com mais variedade de castas autóctones. As variedades autóctones fazem da produção nacional um caso único e conferem aos vinhos portugueses diferenciação da produção dos restantes países da Europa e do resto do mundo.

Em 2010, o jornalista norte-americano Paul White visitou a Região do Vinho do Dão e realçou que "não há outra região no mundo que tenha mais castas desconhecidas que o Dão" ao provar um vinho "que se pode beber agora ou daqui a 30 anos". Segundo este jornalista, "o Dão é a Arca de Noé das castas", numa alusão à enorme variedade nesta região vitícola portuguesa.
A Região do Vinho do Dão é um bom exemplo da diversidade única das castas portuguesas, o que torna a produção nacional de vinho num caso especial em todo o mundo. Vivemos no país com mais variedade de castas autóctones: são cerca de 250 e já estão a ser desenvolvidos estudos que podem vir a descobrir mais. "Acredito que há várias dezenas de castas que não estão ainda referenciadas, só nos últimos anos descobrimos mais cinco variedades de castas", afirmou ao semanário SOL Antero Martins, professor do Instituto Superior de Agronomia e coordenador da Associação Portuguesa para a Diversidade da Videira. Portugal é a mais antiga Região Demarcada e Regulamentada do Mundo e uma vez que soube romper com algum excesso de tradição no seu modo de produção de vinho, é hoje visto como o Novo do Velho Mundo Vitivinícola. A diversidade dos vinhos nacionais e o seu carácter gastronómico são características que distinguem os nossos vinhos.

Variedade a preservar
Estima-se que, em Portugal, existam quase três vezes mais variedades de castas do que em Itália e seis vezes mais do que em Espanha e em França. Esta constatação parece terminar de vez com a crença de que as videiras foram trazidas do Oriente por mercadores fenícios. Estas castas nasceram em Portugal e constituem uma enorme vantagem competitiva para o sector vitivinícola já que a diversidade de castas só enriquece o mercado do vinho. "As nossas castas, além de serem as mais numerosas da Europa, são quase todas exclusivas", garante Antero Martins. Investigações recentes provaram que não há vestígios de castas portuguesas no Oriente, nem sequer no caminho até à Península Ibérica. Para este especialista, mais importante do que a variedade das castas são as diferenças dentro das próprias castas: "estas são difíceis de ver a olho nu e estão em risco de acabar; se nada for feito, em 2020 pode perder-se toda a diversidade genética (mutações naturais) de cada casta e, como consequência, a possibilidade de fazer diferentes vinhos".
 
Especificidade de castas autóctones
São muitos os especialistas internacionais que ficam rendidos às variedades autóctones que fazem da produção nacional um caso único e que nessa particularidade descobrem um dos segredos da qualidade do vinho português. As características do vinho português são únicas e diferenciam este néctar da produção dos restantes países da Europa e do resto do mundo.
Para muitos destes especialistas internacionais, a batalha pela conquista de consumidores por parte das empresas exportadoras de vinho em Portugal, não está ao nível das grandes superfícies e dos vinhos de produção em grande escala. Desta forma, o espaço para os vinhos portugueses no mercado internacional passa pelos produtores independentes onde a relação preço/qualidade do vinho português é muito boa. A especificidade das castas autóctones, que fazem da produção portuguesa um caso único, é onde reside a grande mais-valia para a competitividade dos vinhos portugueses.

Castas de exceção
Ao contrário da tendência mundial que passa pela concentração num reduzido número de castas, Portugal soube preservar e detém actualmente cerca de 250 castas autóctones. No entanto, num mercado vitivinícola mundial dominado por vinhos varietais (baseado em castas internacionais) comunicar muitas castas pode tornar-se pouco eficaz. Assim, a grande aposta da marca Wines of Portugal passa pela promoção de dez das mais extraordinárias castas portuguesas: desde a Touriga Nacional e o Alvarinho, que detêm já reconhecimento internacional, passando pelo Arinto, Encruzado e Fernão Pires, nas castas brancas ou a Tinta Roriz/Aragonês, a Touriga Franca, Tinta Amarela/Trincadeira, Baga e Castelão, nas castas tintas.

Touriga Nacional
É a casta mais nobre entre as tintas. O cacho, pequeno e alongado, possui bagos diminutos, arredondados, de tamanho não uniforme, com a epiderme negra-azul revestida de forte pruína; a polpa é rija, não corada, suculenta e de sabor peculiar. É de maturação média e de produção algo heterogénea, sendo esta pequeníssima com relativa frequência e bastante dependente do modo de condução das videiras.

Alvarinho
A casta Alvarinho é uma das mais notáveis castas brancas portuguesas. É uma casta muito antiga e de baixa produção que é sobretudo plantada na região dos Vinhos Verdes. Esta casta é responsável pelo sucesso dos primeiros vinhos portugueses "monovarietais" (uma só casta), pois em Portugal os vinhos de lote (mistura de várias castas) são mais comuns. A casta Alvarinho produz vinhos bastante aromáticos que conservam uma acidez muito equilibrada.

Arinto
É uma casta muito versátil e por isso é cultivada em quase todas as regiões vinícolas. É na região de Bucelas que esta casta ganha notoriedade, sendo considerada a casta "rainha" da região. O cacho da casta Arinto é grande, compacto e composto por bagos pequenos ou médios de cor amarelada. Esta casta é frequentemente utilizada na produção de vinhos de lote (mais do que uma casta) e também de vinho espumante.

Encruzado
O cultivo da casta Encruzado é praticamente exclusivo da zona do Dão, sendo provavelmente a melhor casta branca plantada na região. É utilizada na produção da maioria dos vinhos brancos através de vinhos de lote ou de vinhos monovarietais. Os vinhos compostos por esta casta são muito aromáticos e de sabor acentuado. Apresentam uma longevidade fora do comum, uma vez que podem conservar-se em garrafa durante muitos anos.

Tinta Roriz / Aragonês
Esta casta é ainda conhecida como Abundante na Região de Lisboa. É uma casta ibérica utilizada nos dois países sendo que em Espanha é conhecida principalmente por Trempanillo. Não é uma casta fácil mas costuma dar produções de qualidade nos anos difíceis. Por tendencialmente ter baixa acidez é normalmente utilizada como casta de lote, para dar equilíbrio aos vinhos. Há até quem diga que mostra o seu melhor quando utilizada assim.

Touriga Franca
É uma das castas mais plantadas na zona do Douro e Trás-os-Montes. É considerada uma das melhores castas para a produção de vinho do Porto e do Douro, mas o seu cultivo já foi alargado às regiões da Bairrada, Ribatejo, Setúbal ou Estremadura. Os vinhos produzidos por esta casta têm uma cor intensa e são bastante frutados. No vinho do Porto, a Touriga Franca integra os lotes com a Tinta Roriz e a Touriga Nacional.

Tinta Amarela / Trincadeira
É uma casta que necessita de muito calor para se desenvolver correctamente sendo por isso uma das mais antigas e tradicionais do Alentejo, tendo também uma boa presença no Douro, com o nome Tinta Amarela. Os vinhos provenientes da Trincadeira, quando jovens, apresentam um aroma com herbáceo característico. Com a idade, adquirem aromas e sabores de compotas e especiarias, como a canela e o cravinho.

Baga
Esta é uma casta tinta predominante da Bairrada, sendo também cultivada no Dão, Estremadura e em algumas zonas do Ribatejo. É uma casta de elevada produção, com cachos de bagos pequenos e de maturação tardia. Em solos argilosos e com boa exposição solar, a Baga consegue amadurecer convenientemente e produzir vinhos muito escuros, concentrados de aroma e que podem envelhecer em garrafa durante muitos anos.

Castelão
É uma das castas tintas mais cultivadas no sul do país e particularmente na zona da Península de Setúbal. A Castelão desenvolve-se melhor em climas quentes e solos arenosos e secos e os vinhos produzidos com esta casta são concentrados, aromáticos (framboesa e groselha) e com boas condições para envelhecer. A região da Península de Setúbal produz os melhores vinhos desta casta.

 

Fonte: Mundo Português