As alterações climáticas podem vir a modificar todo o mapa vitícola em Portugal, com impactos tanto na produção como na qualidade dos vinhos, já a partir de 2041. A conclusão é de um estudo do Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB) da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), em Vila Real.
A eventual transformação das características dos vinhos portugueses, tal como são conhecidos, em menos de 30 anos, é apontada como uma provável consequência das alterações climáticas, caso não sejam tomadas medidas de adaptação. Esta é uma das principais projeções da pesquisa, que estabelece uma série de cenários futuros para o clima e para os vinhos nacionais a partir de 2041 e até 2070, com elevado grau de fiabilidade.
"O clima
português vai ficar muito mais quente. Por exemplo, o clima no Minho vai
ficar parecido ao que temos hoje no Douro, no Douro passaremos a ter um
clima semelhante ao interior do Alentejo e existe a possibilidade de,
no Alentejo, virmos a ter zonas de vinha que, para subsistirem, terão de
ser regadas", explica o investigador Hélder Fraga.
Este
aumento da temperatura pode fazer com que muitas das regiões
portuguesas possam ter condições para uma maturação mais rápida ou
deficiente, "com consequências na produção e na qualidade do vinho",
continua o coautor do artigo. Além disso, as projeções apontam para uma
tendência de homogeneização do clima a nível nacional.
Metodologia
Para
obter estes resultados, os investigadores começaram por analisar o
clima em todas as regiões de Portugal Continental, recorrendo a um
conjunto de bases de dados históricas de mais de 50 anos, entre 1950 e
2000.
Depois, utilizaram essas bases para
calcular os índices bioclimáticos e que permitem averiguar, por exemplo,
a secura de uma região ou qual a casta que melhor se adapta ao clima de
um território específico. Ao associarem os dados recolhidos,
conjugaram-nos num só índice e determinaram 16 categorias climáticas, a
partir das quais classificaram as 12 regiões vitícolas de Portugal
Continental.
O passo seguinte foi a
aplicação dos índices bioclimáticos a dados de vários modelos climáticos
regionais, e a utilização de uma metodologia inovadora de redução de
escala (downscaling), o que permitiu obter projeções de muito alta
resolução para o período entre 2041 e 2070.
Pesquisa inédita
Os
investigadores do CITAB analisaram, pela primeira vez, a nível mundial,
uma base de dados climáticos do território de apenas um quilómetro
quadrado, quando normalmente a área examinada é de 25 quilómetros
quadrados. Além de permitir uma obtenção de resultados mais rigorosa,
esta zonagem é de grande utilidade para a área agrícola devido à elevada
resolução espacial.
Questionado sobre a
fiabilidade das projeções, o investigador do CITAB, Hélder Fraga,
garante que "apesar das incertezas inerentes aos cenários futuros, são
muito robustas, tendo em conta a qualidade dos dados e o facto de termos
usado um conjunto de dados bastante alargado. Além disso, o artigo foi
seleccionado para uma das mais prestigiadas revistas científicas do
mundo, a Regional Environmental Change, o que atesta a qualidade e o
rigor do estudo."
Medidas preventivas
"O
nosso trabalho vai mais no sentido da prevenção de problemas futuros,
não constituindo uma fatalidade para o setor. Deve ser encarado como um
instrumento essencial para a sustentabilidade da viticultura, enquanto
marca portuguesa de qualidade e que todos queremos manter", salienta o
investigador e orientador do estudo, João Santos.
Há várias
medidas que poderão ser tomadas para contrariar os efeitos previstos das
alterações climáticas. "Através de práticas culturais, os agricultores
podem rever os sistemas de condução [forma como a vinha está disposta,
tipo de exposição solar, sistemas de regas, etc.] ou optar pela
plantação de uma casta e/ou porta enxerto que se adaptem melhor ao clima
da região. Mas também as entidades responsáveis, nomeadamente o
Ministério da Agricultura, poderão lançar um plano de prevenção à escala
nacional, para o qual o CITAB pode, naturalmente, contribuir", explica o
investigador Hélder Fraga.
A única região que poderá vir a beneficiar dos efeitos das alterações climáticas e que poderá mesmo dispensar a adoção de medidas preventivas é o Minho, pois poderá ter condições climáticas favoráveis a uma maior variedade de castas, o que trará vantagens em termos de práticas enológicas.
O estudo Zonagem Bioclimática de Alta resolução das regiões vinícolas portuguesas: presente e cenários futuros faz parte da tese de doutoramento de Hélder Fraga, que inclui também artigos científicos com projeções semelhantes para toda a Europa e estudos sobre produção e fenologia para as regiões do Douro, Minho e Lisboa. A dissertação está a ser orientada pelos investigadores do CITAB, e docentes na UTAD, João Santos, Aureliano Malheiro e José Moutinho Pereira e conta com a participação dos especialistas internacionais em alterações climáticas Gregory Jones (docente na Universidade de Oregon, EUA) e Joaquim Pinto (professor na Universidade de Reading, Reino Unido), bem como de Fernando Alves que, à data da publicação do artigo, era técnico da Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense (ADVID). Este estudo faz parte do plano de trabalhos do projeto financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia intitulado "Estratégias de curto prazo para mitigação das alterações climáticas na viticultura mediterrânica (ClimVineSafe)". O projeto decorre desde 2011 até 2014 e tem como instituições participantes a UTAD, a Universidade de Aveiro e a ADVID.
Fonte: CiênciaPT
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