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Vindimas: chuva fez alguns estragos, mas este é um ano de qualidade
O Instituto da Vinha e do Vinho prevê para este ano um aumento da produção na ordem dos sete por cento face à campanha do ano passado. Nem a chuva dos últimos dias deverá complicar as contas. E, no que respeita à qualidade das uvas, o optimismo corre de Norte a Sul.

A última semana de Setembro trouxe consigo chuva forte e interrompeu as vindimas um pouco por todo o país. Embora num primeiro balanço esta precipitação, que bateu recordes em algumas estações meteorológicas, não tenha tido impacto significativo na qualidade das uvas, há regiões, como o Dão, onde os primeiros dados indicam uma descida do grau alcoólico e, até, a possibilidade de aparecimento de podridão. Os próximos dias, que se prevêem de sol, serão decisivos para muitos produtores. 

Mas essa pode bem ser a única má notícia: na maior parte das regiões vinícolas contactadas pela Revista de Vinhos a expectativa é de que este seja um ano francamente bom, em termos de qualidade das uvas. A Sul do Tejo, onde a maturação foi mais acelerada, a chuva chegou numa altura em que a maior parte da produção já estava nas adegas. Noutras regiões, com o calendário menos adiantado, havia, ainda assim, já muito trabalho feito nas vindimas e, portanto, o cenário é igualmente positivo.

Onde a precipitação poderá ter causado alguma degradação na qualidade da colheita é nas regiões da Bairrada e do Dão, havendo ainda algumas interrogações em Lisboa, onde será preciso confiar nas previsões de bom tempo para a próxima semana e esperar mais uns dias, para permitir à uva transformar a água entretanto absorvida. Vanda Pedroso, do Centro de Estudos Vitivinícolas (CEV) de Nelas, classifica mesmo a situação do Dão como "um bocadinho complicada": "Esta chuva degradou a qualidade da uva, porque caiu em grande quantidade e isso provoca o rachamento da película, para além de diminuir o teor alcoólico."

Apesar de tudo, há esperança de que os males possam ser minorados para quem consiga aproveitar a janela de bom tempo dos próximos dias. "Quem conseguir vindimar de imediato não terá tantos problemas, porque o passar do tempo, com temperaturas da ordem dos 15/20 graus, poderá provocar o aparecimento de podridão", acrescenta a técnica do CEV de Nelas. "Não se pode dizer que seja um grande ano de Dão. Podia ser, se não fosse esta chuva...", conclui.

Os dados fornecidos pelo Instituto do Mar e da Atmosfera explicam os problemas sentidos na região do Dão, bem como alguma preocupação na Beira Interior e, embora em menor grau, na Bairrada. Num mês de Setembro mais pluvioso do que a média, houve estações meteorológicas que bateram recordes diários de precipitação no dia 28 - Guarda, com 77,2mm; e Castelo Branco, com 63,8mm. Monção (76,5mm), Sabugal (71,5mm) e Zebreira (50,5mm) também atingiram valores impressionantes nesse mesmo dia. Foi, aliás, a chuva dos últimos cinco dias do mês que catapultou Setembro para um valor de precipitação médio de 58mm, uns significativos 15,9mm acima da média registada entre 1971 e 2000.

Em Lisboa, as dúvidas têm mais a ver com o atraso registado na Primavera, com o pintor (fase em que as uvas ganham a sua característica branca ou tinta) a aparecer muito tarde e a maturação a dar-se em menos de metade dos 50 dias normalmente necessários, devido ao calor. Vasco Avillez, presidente da Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa, explica que a vindima, que costuma estar encerrada no final de Setembro, "ainda agora vai a meio", o que suscita alguma preocupação. Mas o expectável decréscimo de "15 por cento" na produção é compensado pela qualidade da safra: "Muito boa!"

Também choveu muito no Minho, mas Manuel Pinheiro, presidente da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes, garante que a precipitação "não afectou negativamente a qualidade do vinho", num ano em que, "apesar de se terem verificado casos de desavinho e bagoinha causados pela chuva e baixas temperaturas na floração", a previsão aponta para "um acréscimo de 15 por cento" na produção, "para cerca de 75 milhões de litros".

Na Beira Interior, explica Rodolfo Queirós, técnico da CVR local, também se antecipa um acréscimo de produção que pode chegar aos 15 por cento e uma boa qualidade da uva. Quando chegou a chuva as vindimas estavam bem mais adiantadas na zona meridional desta região, mas, à medida que se caminhava para Norte, havia cada vez mais produtores "em stand-by". "Há que esperar para ver se a precipitação trouxe algum problema, mas, para já, não há registo de podridões, que era o que mais nos preocupava. Se a chuva se mantiver, então aí, sim, a situação pode tornar-se mais complicada."

É também este o maior ponto de interrogação no Douro. O Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) faz saber que não tem, para já, "conhecimento de qualquer prejuízo, o que poderá ocorrer se a chuva se mantiver, nomeadamente no que respeita ao aparecimento de focos de podridão na uva". Com a previsão meteorológica a apontar para dias de sol ou céu pouco nublado na próxima semana, este cenário parece pouco provável. Ficam, portanto, as boas notícias: "As perspectivas apontam para um aumento de quantidade das uvas em relação ao ano passado em cerca de 10 a 20 por cento e com muito boa qualidade", informa o IVDP.

Na Bairrada, Pedro Soares, presidente da Comissão Vitivinícola, também assume alguma "preocupação em relação aos tintos", mas rejeita qualquer tipo de "alarmismo". Até porque o que "já está vindimado - brancos, rosés, tintos mais leves - é de altíssima qualidade". Agora, há que esperar mais uma ou duas semanas para se saber se os tintos de vinhas mais velhas seguem esta tendência.

Uma temporada em cheio está também nas previsões de José Gaspar, presidente da Comissão Vitivinícola Regional do Tejo, que fala num "grande ano" para os vinhos da região. Quando a chuva apareceu, "tudo o que era brancos já estava apanhado e também 80 a 90 por cento dos tintos". Embora o volume possa baixar entre 20 a 30 por cento em relação a 2012, "os brancos são excelentes e os tintos quase atingem o mesmo nível", garante.

Para Sul, tudo a correr bem. O Alentejo espera colheitas ao nível dos anos anteriores em quantidade e qualidade e no Algarve há mesmo uma nota de grande optimismo: "Estamos perante uma grande campanha, que normalmente só ocorre de três em três anos, onde se destaca a qualidade das uvas", explica Carlos Gracias, presidente da Comissão Vitivinícola da região. "Perspectiva-se um ano óptimo para a produção de excelentes vinhos brancos", acrescenta.

Em Setúbal, também haverá certamente brancos "muito bons", alguns até "já certificados", adianta Henrique Soares, presidente da Comissão Vitivinícola Regional da Península de Setúbal. Numa campanha em que se prevê "uma queda de 15 a 20 por cento da produção face à média dos últimos cinco anos", a expectativa para os tintos, embora ainda sem dados definitivos, é também optimista em termos de qualidade. A chuva não terá "prejudicado" a região, onde agora a palavra de ordem é aproveitar a janela de bom tempo que aí vem para terminar as vindimas. "Mais uns dez dias", estima Henrique Soares.


 

Fonte: Revista de Vinhos