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Exportadores de vinho já sofrem com crise angolana
Há pagamentos bloqueados e as encomendas são reduzidas. Alentejo e Douro são as regiões mais expostas a Angola. Tudo por causa da perda de receitas provenientes do petróleo.

Os exportadores de vinho para Angola já registam os efeitos da crise no país, sofrendo com "bloqueios nos pagamentos" e pressão "para vender categorias inferiores e a preços mais baixos", regista Paulo Amorim, presidente da ANCEVE- Associação Nacional dos Comerciantes Exportadores de Vinhos e Bebidas Espirituosas e administrador da Dão Sul.

Paulo Amorim admite que no cenário mais adverso as exportações "podem em 2105 cair para metade".

Em 2014, Portugal vendeu 100 milhões de vinho para Angola sendo o principal fornecedor de vinho engarrafado. A venda a granel representa um quinto do negócio.

A ameaça da África do Sul
Jorge Monteiro, presidente da ViniPortugal confirma que as exportadoras mais expostas a Angola "manifestam grande preocupação". Além dos efeitos da receita do petróleo na economia do país, no caso do vinho os produtores identificam "o risco que decorre da adesão de Angola ao acordo comercial com dos países da África Austral (SADC)".

É uma ameaça suplementar por facilitar o reforço de exportações de concorrentes como a África de Sul, que já lidera no vinho a granel.

Angola representa 20% das exportações de vinho de mesa português. O presidente da ANCEVE lembra que em mercados, como Angola ou Brasil, de cariz protecionista e desempenhos cíclicos, "nunca se deve embandeirar em arco com evoluções favoráveis" e ter a consciência de que "as encomendas podem registar quedas abruptas e severas".

Quotas por definir
Perante o novo quadro angolano, os exportadores aguardam que a situação se clarifique e se haverá uma limitação administrativa às importações, depois de terem sido anunciadas quotas para os produtos alimentares básicos.

Mas sem a transferência de divisas o negócio terá de se ressentir. Os primeiros sinais fornecidos pelos importadores angolanos "é de pressionar os preços e reduzir volumes encomendados", nota Paulo Amorim.

O presidente da ANCEVE diz que a normalização do país e a confiança estabelecida com os importadores levou as empresas portuguesas a abdicar da proteção de cartas ou seguro de crédito.

Em causa, não está "o risco país". Com os pagamentos ao exterior condicionados pela política restritiva do Banco de Angola. Alentejo e Douro são as regiões mais expostas a Angola, mas Tejo, Lisboa ou Setúbal são as que mais têm progredido neste mercado.

Na Bacalhôa, os alarmes ainda não soaram "porque nesta fase do ano as informações são ainda inseguras", mas a empresa está em estado de alerta.

"É fatal que as exportações sejam afetadas", reconhece o administrador, Eduardo Medeiro. A Bacalhôa faz em Angola  8 milhões de vendas, um quarto da sua faturação. Ainda assim,  Eduardo Medeiro acredita que o vinho poderá escapar com menos escoriações do que bebidas como a cervejas, "por não existir produção local". 

 

 

Fonte: Expresso / Abílio Ferreira