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Espumantes. Uma oportunidade à espera de ser agarrada
Três quintos das exportações portuguesas de espumante são Champagne que importamos de França e reenviamos para África

Portugal não está a dar a devida atenção aos espumantes. Um mercado que movimenta mais de 750 milhões de litros e que vale 4,6 mil milhões de euros em todo o mundo, mas no qual Portugal tem uma parcela de 0,3% em valor e de 0,2% em volume. E que deveria valer, pelo menos, 2% acredita o presidente da ViniPortugal, Jorge Monteiro.

Os dados são de um estudo promovido por esta associação interprofissional para a promoção dos vinhos portugueses no mundo em parceria com o Instituto da Vinha e do Vinha. E cujas conclusões levam o presidente da ViniPortugal, Jorge Monteiro, a defender que, não só Portugal "não está a acompanhar a onda mundial na produção de espumantes", como "numa parte do negócio" somos meros intermediários do Champagne que importamos de França e que reexportamos para África.  

Voltemos aos números. As importações portuguesas neste segmento de mercado são de 21 milhões de euros para uma exportação de 13 milhões. Sendo que, 61% deste valor corresponde a Champagne, 2% a Asti (que importamos de Itália), e 27% a espumantes não certificados. Os espumantes com denominação de origem ou indicação geográfica são responsáveis por, respetivamente, 9% e 1% das nossas exportações. O preço médio total é de 7,18 euros a garrafa, mas que varia entre os 32,87 euros do Champagne e os 2,79 euros do espumante não certificado.

Os maiores importadores de vinho espumante no mundo são o Reino Unido e os EUA, com 748 milhões e 696 milhões de euros, respetivamente. Seguem-se a Alemanha, com 363 milhões, o Japão, com 352 milhões, e Singapura, com 270 milhões de euros. Já os principais destinos das exportações portuguesas de espumante são Angola, França, Brasil, Itália e Japão. O Reino Unido, que aparece em nono na tabela, é o que mais valoriza esta categoria de produto, com 3,91 euros de preço médio de exportação. Segue-se a Suíça com 3,77 euros e os Estados Unidos com 3,14 euros. O Brasil só paga 2,75 euros e Angola 2,68 euros a garrafa.

E se é verdade que a produção de vinho espumante em Portugal mais do que quadruplicou na última década, situando-se pouco acima dos 37 mil hectolitros, não é menos certo que este é um mundo dominado pela França, naturalmente, com 3,5 milhões de hectolitros, por Itália, com 3,2 milhões, e pela Alemanha, com 2,6 milhões de hectolitros. Curiosamente, a quarta e quinta posição do ranking são divididas entre a Espanha e a Rússia, ambos com uma produção anual de 1,8 milhões de hectolitros de espumantes.

"Este é um estudo que pretende alertar as consciências e provocar o sector. Como é que Portugal ocupa o 9º lugar no comércio internacional de vinhos e não aparece em nenhum dos rankings de espumantes", questiona Jorge Monteiro.

Para o presidente da ViniPortugal, é necessário que sejamos "mais agressivos e mais atrevidos", explorando novas tipologias de produtos. Até porque, recorda, os mercados e os canais de distribuição são os mesmos. "Produzir um vinho espumante dá mais trabalho, porque é um produto mais exigente, mas também dá uma maior remuneração. É uma questão de atitude e se o mercado procura este produto, temos de fazer um esforço e aproveitar a oportunidade", defende.

E qual seria a quota natural de Portugal? "Temos entre 1,5 e 2% da produção mundial de vinho e 2% do comércio internacional. Julgo que é legítimo que tenhamos a ambição de ter 2% também no comércio mundial de espumantes. Chegaremos lá? Não sei. Mas estamos tão longe, vamos tentar", frisa. "Portugal teve a ousadia, há mais de cem anos, de convidar técnicos de Champagne para virem à Bairrada ensinar como se faziam o vinho espumante na região. Tínhamos a obrigação de não ter deixado escapar esse khow how e essa oportunidade", sublinha Jorge Monteiro.

 

Fonte: Dinheiro Vivo / Ilídia Pinto