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Gran Cruz compra stocks da CCVP e consolida liderança no vinho do Porto
Empresa detida pelos franceses da La Martiniquaise investe cerca de 14 milhões de euros, absorve mais de seis milhões de litros do vinho do Porto e eleva quota na exportação em volume para 30%. A CCVP, a sexta exportadora do sector, vai ser extinta

A Gran Cruz, detida pela multinacional francesa La Martiniquaise, consolidou a sua posição de liderança no sector do vinho do Porto, depois de adquirir no final do ano passado todos os stocks da Companhia Comercial de Vinho do Porto (CCVP), uma empresa que estava há duas gerações na família Christie e que se vai extinguir. Com este negócio, a Gran Cruz passa a dominar cerca de 30% do mercado global do vinho do Porto e, ao eliminar o seu concorrente directo no mercado francês, assume uma posição hegemónica no principal destino mundial das exportações de vinho do Porto em volume. "Numa altura em que as redes de distribuição estão cada vez mais concentradas, é importante que haja o mesmo movimento do lado das empresas do sector", diz Jorge Dias, presidente do conselho de administração da Gran Cruz. "Este é um bom negócio para nós, mas também para a consolidação do sector", acrescenta.  

Com a assinatura do acordo entre as partes nos últimos dias de 2015, a Gran Cruz tomará posse de todos os vinhos detidos pela CCVP, que oscilam entre as 11 e as 12 mil pipas, ou seja, entre seis e 6,5 milhões de litros. As duas empresas não avançam com os valores envolvidos no negócio, mas fontes do sector indicam que se deverá ter situado entre 13,7 e 14 milhões de euros. Mas, para lá dos stocks de vinhos adquiridos, a Gran Cruz fica com acesso aos contratos da CCVP, que na sua quase totalidade dizem respeito ao fornecimento de B.O.B (vinhos com a marca do comprador), entre os quais a cadeias de relevo como a Carrefour.

Em termos globais, o negócio fará aumentar a quota de mercado da Gran Cruz de 25 para 30% - afastando-se de vez do grupo Symington, que, no entanto, apesar de deter um quarto do mercado, apresenta uma facturação superior dada a sua quota de vinhos de categorias especiais.

O que este negócio significa em primeiro lugar é a tentativa de a Gran Cruz eliminar o seu concorrente mais directo em França, um mercado que em 2014 absorveu 21,6 milhões de litros de vinho do Porto e rendeu às empresas 78,3 milhões de euros. Mas se a França é o maior mercado do sector desde que em meados dos anos 60 destronou a Inglaterra, é também o que compra vinho do Porto a preço mais baixo - 3,62 euros por litro, em 2014. A Gran Cruz, que se dedicou ao negócio em 1956, e a CCVP são, em boa parte, responsáveis pelo lado bom e pelo lado menos bom desta realidade: foram estas empresas que fizeram crescer o mercado francês, mas foi a sua severa concorrência que dificultou a valorização do produto (comparativamente, no Reino Unido o preço médio do litro do vinho do Porto ronda os 5,11 euros). Num segmento de mercado onde os negócios se fazem ou desfazem por menos de um cêntimo por garrafa, a eliminação de um concorrente directo exige economias de larga escala e o desenho de uma operação na qual a eficiência é primordial.  

Com este movimento, a Gran Cruz consolida-se como o maior investidor do sector no vinho do Porto dos últimos anos. Para lá da construção de uma adega de vanguarda, que custou 20 milhões de euros, a aposta dos franceses no Douro e em Gaia implicou a compra do capital total da Vale de São Mateus (na qual detinha 75%) e na aquisição da Quinta do Ventozelo, uma das maiores propriedades do Douro, com 400 hectares dos quais metade estão plantados com vinha, aos espanhóis da Proinsa. O grosso da sua operação continuará a ter por base a marca Porto Cruz, que se dedica aos vinhos de entrada de gama nos mercados francês, belga e holandês. Mas os investimentos realizados permitiram igualmente uma estratégia de investimento nas gamas premium, que serão trabalhadas com as marcas C. da Silva, Dalva e Ventozelo. A Gran Cruz começou também a apostar na produção de vinhos DOC Douro. Jorge Dias afirma que, apesar desse segmento representar cerca de 200 mil garrafas num negócio global que mobiliza, já com a incorporação dos stocks e do mercado da CCVP, cerca de 30 milhões de garrafas por ano, é a grande "opção estratégica" para o futuro.

A extinção da CCVP não significa, porém, o abandono de Stefan Christie dos negócios do Douro e do vinho do Porto. O francês vai apostar nos DOC Douro tendo por base a produção da Quinta Dona Mafalda, da qual é proprietário, e vai igualmente explorar os segmentos premium do vinho do Porto a partir da Butler & Nephew, uma marca histórica do sector. A nova fase dos negócios de Christie será conduzida por Paulo Amorim, um gestor que passou, entre outras, pela Aveleda e pela Dão Sul.

 

Fonte: Público /  Manuel Carvalho