Início\ Informação \ Notícias
Cortiça: Informação sobre vedante nas garrafas de vinho interessa mais às corticeiras do que ao consumidor
O administrador da Herdade do Esporão defende que a informação sobre vedantes não deve ser obrigatória no rótulo das garrafas e que a petição "Ecological Cork" tem uma "segunda agenda" mais interessada na indústria corticeira do que no consumidor.

A propósito do documento com mais de 11.000 assinaturas que deu entrada no Parlamento e aguarda agora discussão pública, João Roquette declarou à Lusa: "A cortiça é um excelente produto e usamo-la em 99 por cento da nossa produção, mas acho que esta petição tem uma segunda agenda que não está tão preocupada com os interesses do consumidor quanto com os interesses da indústria corticeira".

Para o responsável daquela que foi a primeira empresa portuguesa a certificar com a norma FCC as rolhas de cortiça utilizadas nos seus vinhos, "a petição aparece com o argumento de informar o consumidor, mas o que pretende é promover os interesses da indústria corticeira e, nesse caso, esta é a estratégia errada".

"Se a indústria da cortiça se quer promover, que o faça por si própria, sem a desculpa de que está a pensar no interesse dos consumidores de vinho e os quer mais informados", recomenda João Roquette.

"Já era tempo, aliás, de os empresários da cortiça diversificarem a sua área de negócios e deixarem de ser tão dependentes da indústria do vinho".

João Roquette considera que a referência ao tipo de vedante nos rótulos das garrafas "deve ficar ao critério do produtor, numa escolha livre", porque se passar a ter caráter obrigatório "abre a porta a que tudo o resto tenha também que aparecer de forma explícita nesse espaço de informação que deveria ser sobretudo para a marca comunicar com o seu cliente".

O empresário realça ainda que não é "faccioso" a ponto de dizer que a rolha de cortiça é sempre a melhor opção.

"É mais ecológica e melhor para o envelhecimento de vinhos de guarda", admite, "mas outros tipos de vedante permitem uma abertura mais rápida da garrafa e não implicam saca-rolhas, que é um objeto perigoso".

Quanto à ausência de informação que permita distinguir no rótulo entre um tipo de vedante e o outro, o mesmo responsável diz que "não é daí que vem grande mal ao mundo".

"Numa garrafa de água ninguém precisa que o rótulo informe se a embalagem é de plástico ou de vidro, porque a vemos", observa. "Numa garrafa de vinho também se percebe facilmente se ela usa rolha ou screwcap", acrescenta o empresário, referindo que são "residuais" no mercado nacional os formatos de vedante que não possam identificar-se através de uma garrafa fechada.

João Roquette defende assim que a obrigatoriedade da referência ao vedante abriria caminho para "excesso de informação", numa época em que "já se é bombardeado com tanta coisa que, se essas exigências chegam aos computadores, aos eletrodomésticos e às outras coisas do dia-a-dia, daqui a nada não há rótulo que chegue para tudo e as pessoas passam a andar sempre com manuais de instruções atrás".

"Se fosse uma questão que representasse riscos para a saúde, aí eu compreendia", garante o administrador da Herdade do Esporão. "Mas não sendo isso o que está em causa, deve-se usar de bom senso e esta proposta está no limite do que é razoável".

Para o empresário, "não é com competições destas" que se aumenta a competitividade nacional.

"Se o objetivo é promover a indústria da cortiça juntamente com a do vinho, o que é um trabalho possível e desejável, não se fazem as coisas só por iniciativa de uma parte e sentam-se as duas à mesa, a discutir uma estratégia que seja de interesse para ambas", explica.

 

Fonte: Lusa/AYC.