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Fladgate compra histórica Wiese & Krohn
Processo de concentração no sector do vinho do Porto continua. Empresas portuguesas de base familiar perdem mais uma marca.

A Wiese & Krohn, uma exportadora de vinho do Porto fundada em 1865 por noruegueses foi comprada pela The Fladgate Partnership.

Com o negócio, a Fladgate, detentora de marcas emblemáticas do sector como a Taylor's, a Croft e a Fonseca, reforça a sua posição no segmento alto do vinho do Porto, ficando a controlar um valioso acervo de vinhos com data de colheita. Ao mesmo tempo, a venda implica a saída do sector de mais uma família tradicional, os Falcão Carneiro, e o reforço da posição dos grandes grupos na produção e comercialização do vinho do Porto. Os valores do negócio não foram revelados.

Para Adrian Brigde, director geral da Fladgate, "a aquisição desta firma especialista em colheitas irá permitir que o grupo possa continuar a acompanhar o aumento da procura de vinhos do Porto Tawny de idade no futuro". Neste segmento, as marcas do grupo controlam já 30% do mercado. José Falcão Carneiro confia que "a marca Krohn continuará a prosperar sob a orientação dos novos proprietários" e congratula-se com o facto de o "comprador se ter comprometido a manter o emprego de todos os colaboradores da firma".

Para a família Falcão Carneiro acaba assim uma ligação ao vinho do Porto que data de, pelo menos, da década de 1930, época em que adquiriu a pequena firma a Edmund e Frederick Arnsby. A empresa manteve-se nos últimos anos como uma produtora de vinho do Porto de alta qualidade, com as suas colheitas, algumas de anos tão remotos como 1863 e 1896, a serem colocadas no topo do ranking de qualidade do sector. No ano passado, a Wiese & Krohn, que possui a Quinta do retiro Pequeno no vale do Douro, vendeu 140 mil caixas (de 12 garrafas) de vinho do Porto e menos de mil de DOC Douro. A maior parte deste volume de vendas foi feita com as marcas do importador, o que equivale à comercialização de vinhos de menor preço e qualidade.

Com os Falcão Carneiro fora do negócio, a presença das tradicionais famílias portuguesas no vinho do Porto reduziu-se ainda mais. Actualmente, permanecem activos os Silva Reis (Real Companhia Velha), os Poças, os Flores (da Andresen) e os Vieira, que dominam a Borges (os Niepoort, sendo de origem holandesa, são geralmente considerados como nacionais pelos pares do sector). Uma fonte do sector lamenta a "perda da diversidade" que este processo está a provocar no vinho do Porto.

Para Isabel Marrana, secretária-geral da Associação das Empresas do Vinho do Porto, a alienação das pequenas companhias aos gigantes do sector é, no entanto, "uma inevitabilidade". Em causa está, diz Isabel Marrana, "uma resposta à concentração que vem de jusante, ao nível das grandes distribuidoras". Ou seja, num negócio cada vez mais determinado pelos grandes números, pequenas companhias como a Wiese & Krohn têm mais dificuldades em subsistir.

Para a Fladgate, a aquisição é mais um passo numa estratégia de crescimento desenvolvida nos últimos anos. Depois de comprar a Croft, uma das marcas históricas do vinho do Porto e de adquirir a Quinta da Eira Velha, a Fladgate reuniu trunfos para disputar o mercado das gamas superiores ao grupo Symington, que lidera na categorias especiais (em volume, a maior empresa do sector é a Gran Cruz, de capitais franceses). Mais recentemente, a Fladgate investiu 21 milhões de euros na compra da Quinta dos Barões para aí instalar uma moderna linha de engarrafamento. O grupo controla dez quintas no Douro com uma área de vinha de classe A que ronda os 750 hectares. No ano passado, o volume de negócios da área do vinho (a Fladgate tem também interesses no turismo) ascendeu a 53 milhões de euros.

 

Fonte: Público / Manuel Carvalho