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Vitivinicultores Apostam no Mercado Interno
É nas prateleiras das grandes superfícies que os produtores nacionais concentram as suas estratégias comerciais para o mercado interno, apesar da contração económica, que se agudizou nos últimos meses

Os hipermercados e supermercados continuam a escoar a maior parte da produção nacional de vinho e nem a euforia crescente das exportações neste setor convence os produtores a descurar o mercado interno. A importância do mercado nacional e da moderna distribuição em particular foi unanimemente reconhecida pelos representantes das cinco casas produtoras de vinhos que participaram ontem na segunda conferência regional Uva d´Ouro, a iniciativa que o "Jornal de Notícias", a TSF e o Continente têm vindo a promover à escala nacional para dinamizar a divulgação dos vinhos portugueses.

"Pelo menos 75% das nossas vendas no mercado nacional são concretizadas na grande distribuição, que nos permite chegar a muitos clientes num só ponto de venda, com entregas e pagamentos centralizados", destaca Pedro Lufinha, diretor-geral da Quinta da Alorna. Incrementar as oportunidades de prova de vinho para despertar no consumidor a vontade de repetir a experiência traçada por Pedro Lufinha para o mercado nacional, que escoa ainda metade da produção da Quinta da Alorna. "Não queremos que seja só o preço a ditar a diferença", sublinha o responsável da quinta que acaba de investir 5,5 milhões de euros na renovação da sua adega.

A pressão das margens baixas é o preço a pagar pelo acesso à grande distribuição, lamenta José Barroso, diretor da Adega Cooperativa do Cartaxo. "Mas não há dúvida que cada vez se consome menos vinho em restaurantes e temos de nos adequar ao novo posicionamento do consumidor", admite o responsável da Cooperativa do Cartaxo.

Cada vez mais informado e racional nas suas escolhas, o consumidor é, efetivamente, menos fidelizado a marcas e mais atento a preços e a campanhas promocionais, confirma Helena Martins, diretora comercial alimentar da Sonae. "Há menos compras por impulso e mais comparações de preços. O consumidor procura os produtos mais baratos e procura boas oportunidades, como as campanhas, procurando poupar", constata a responsável da cadeia detentor dos hipermercados Continente, onde as duas feiras de vinho realizadas anualmente representam 19% das vendas de vinho das grandes superfícies do grupo.

Apostar em marcas brancas comercializadas nas grandes superfícies tem sido a estratégia escolhida pela Cooperativa Agrícola Santo Isidro de Pegões para vencer no canal da chamada moderna distribuição. "Tentámos operar com uma marca exclusiva para os hipermercados, mas tivemos de alargar a nossa presença à pequena distribuição e às exportações. Hoje, queremos estar no mercado das marcas brancas nos hipermercados e apostar paralelamente na gama alta e superior e na criação de novos produtos", revela Sónia Pinto, enóloga responsável pela cooperativa.

É na melhor relação qualidade / preço do vinho comercializado nas prateleiras dos hipermercados que se concentra também a aposta da Bacalhôa Vinhos de Portugal, com presença em oito regiões vitivinícolas nacionais e uma produção anual de 20 milhões de litros. "Apostamos em novas castas para conseguirmos mais e melhor matéria-prima para os nossos vinhos, mas queremos também melhorar os nossos rótulos e a nossa imagem corporativa, reforçando os valores da qualidade e excelência", alega Sérgio Marques, produtor da Bacalhôa.

A aposta nos mercados externos é uma constante no discurso dos produtores vitivinícolas, com angola, Brasil e China a ocuparem lugares privilegiados na lista dos destinos fora da Europa. Ainda assim, é no mercado interno que os produtores procuram valorizar as suas marcas, associando-se à história das quintas que representam e a toda uma tradição familiar, com forte cunho regional. "Saber contar essa história e apostar na promoção de vinhos em conjunto com a promoção da própria região é um dos fatores críticos do sucesso de uma marca", defende Joana Vida, responsável de marketing da casa Venâncio da Costa Lima.

A empresa está a finalizar um investimento de 2,5 milhões de euros, apoiado por fundos comunitários, para modernizar a adega. E embora reconhecendo que as exportações são relevantes para o crescimento do negócio, Joana Vida garante que a competitividade dos preços é a melhor aposta para um posicionamento bem sucedido nas grandes superfícies.

 

 

Fonte: Jornal de Notícias / Ana Santos Gomes