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Opinião: Para quê pagar uma garrafa se só quero beber um copo?
Em tempos idos, mas não tão distantes assim, era vulgar o consumidor português chegar a um estabelecimento “especializado" – a tasca - e pedir “um copo”.

Regra geral a escolha era limitada: verde, maduro, branco, tinto ou palhete. Era o tempo em que comer no comboio era depreciativo baseado na figura do farnel (recordo uma viagem de comboio entre Espinho e o Porto, em que uma senhora acompanhada do marido, deliciada me pergunta se sou servido do seu frango assado, com um excelente aspecto).

Hoje os tempos são outros. Comer no comboio - no Alfa ou no Lusitânia Expresso - até pode ser um elemento de status. Se antes seria depreciado hoje até será apreciado.

Pois é, os tempos são outros e o Vinho A Copo começa a ser moda.

É certo que muitas outras transformações aconteceram. O vinho passou a ser engarrafado e por regra certificado, podendo ser com DO, Denominação de Origem ou Indicação Geográfica, embora haja honrosas excepções, que confirmam a regra, vinhos bons não certificados.

Por outro lado o vinho passou também a ser um produto de consumo de natureza aspiracional.

Mas será mesmo assim? O Vinho A Copo passou a ser moda?
Bom de facto é mais um desejo que realidade.

Há já uma boa mão cheia de restaurantes com Vinho A Copo. E nota-se sobretudo nos que sabem fazer contas. Isto é, os que preferem facturar menos (vender menos garrafas) mas ganhar mais (maior margem por cada garrafa vendida em doses a copo). Nos Restaurantes de gama alta é inquestionável. À medida que vamos descendo na escala, vai sendo menos verdade.

Algumas razões aconselham a mudar de paradigma. Antes de mais melhorar a qualidade do serviço ao cliente. Mas também, adaptando-se a uma época de menor disponibilidade económica, com maior apelo ao consumo moderado e quando a gestão do desperdício ganha peso, uma proposta de Vinho A Copo é sempre uma proposta ganhadora: ganha o consumidor (desperdiça menos e só paga o que bebe) e ganha o vendedor pois pode aumentar a sua margem ao mesmo que alarga a sua oferta e alarga o leque de potenciais consumidores. E, a prazo, irão ver que as vendas aumentarão. Mais e novos consumidores: um branco Verde agora; um tinto Douro depois; na mesma mesa podem conviver diferentes vinhos em função das preferências de cada cliente. O fim da ditadura da garrafa!

Mas nem tudo são rosas. É certo que a conservação do vinho é um preconceito. Vender 5 doses de 15 cl é coisa que se faz bem num só dia. Mas mesmo que assim não fosse, existem hoje equipamentos de conservação e distribuição de vinhos, que vão de algumas centenas de euros até aos milhares. É certo, que é um investimento, mas com elevado retorno.
Mas compensará!

Afinal o cliente cada vez mais pensará "para quê pagar uma garrafa se só quero beber um copo?".

 

 

Fonte: Escape - Expresso