Martine Saunier, que esteve no Porto em setembro, para a projeção de "A year in Burgundy" [Um ano na Borgonha], durante o festival Douro Film Harvest, é um nome de referência no universo dos vinhos por, enquanto importadora, ter sido responsável pela introdução de importantes vinhos franceses nos Estados Unidos, como Chateau Rayas e Henri Jayer.
Mas ultimamente, Martine Saunier, que no início do ano vendeu o negócio que fundou há 33 anos, tem-se dedicado aos documentários sobre algumas das regiões vinícolas mais famosas do mundo.
Para além de figurar como guia, foi produtora e consultora de "A year in Burgundy", tendo feito o mesmo para "A year in Champagne", que está a ultimar a sua produção, e agora desempenha o mesmo papel num filme sobre o Douro, ainda em fase de recolha de imagens.
"Venho visitando Portugal, isto é Vila Nova de Gaia e o vale Douro, há muitos anos e achei que era um país tão espetacular com o seu vinho, especialmente o vinho de mesa que tem vindo a crescer em qualidade, que me pareceu fazia todo o sentido tê-lo num filme", afirmou à agência Lusa.
Os filmes são realizados por David Kennard, documentarista que trabalhou durante 25 anos na BBC e que realizou e produziu mais de 100 documentários, entre eles "Cosmos", com Carl Sagan, "2001: HAL's Legacy", "Wine for the confused" ou "Surviving Setember 11th: The story of one New York family".
Foi ele que um dia foi ter com Martine Saunier dizendo-lhe que ela era "a pessoa certa" para fazer um documentário sobre a Borgonha. Nascida na região, aquela que a conhecida crítica de vinhos Jancis Robinson classificou de "importadora extraordinária", considerou que era um desafio interessante após mais de 40 anos a comercializar vinhos.
Faltavam meio milhão de dólares que acabaram por surgir na figura de Todd Ruppert, CEO da empresa de investimentos T Rowe Price, que foi ocasionalmente apresentado a Martine Saunier por ser um apreciador dos seus vinhos.
"Eu perguntei se ele conhecia alguém que estivesse interessado em patrocinar um filme sobre a Borgonha comigo e ele respondeu, claro que conheço pessoas, eu mesmo estaria interessado", lembrou.
Foi Todd Ruppert que entusiasmado com o primeiro documentário, que segue sete pequenos produtores de Borgonha durante um ano, quis mais um sobre a região de Champagne mas foi Martine Saunier quem sugeriu o filme sobre o Douro.
A sua relação à região, lembrou, começou em 1985 quando James Suckling, antigo critico e editor da Wine Spectator escreveu um livro sobre vinho do Porto e a contactou dizendo-me "que devia representar o vinho do Porto" e ela respondeu "que não sabia nada sobre o assunto, mas ele insistiu".
A sua relação começou com os vinhos da Quinta de la Rosa e voltou a ser James Suckling a indicar-lhe Dirk Niepoort. "Tem sido uma experiência exultante, porque eu trabalho com ele vai para 14 anos e o aumento das vendas tem sido fantástico e ele é um fantástico produtor", afirma.
Dirk Niepoort tem sido um dos guias para o documentário que inclui também retratos de produtores como os Symington, Quinta das Vageiras, Ramos Pinto mas também de pequenas quintas.
Para Martine Saunier o vinho do Porto vive momentos complicados, nomeadamente os Vintage "porque hoje ninguém compra para o futuro, as pessoas não têm espaço e os restaurantes não têm dinheiro". Por outro lado considera que os Tawny e os Colheita, que ao contrário dos Vintage, não têm de ser bebidos mal se abre a garrafa, "estão a ter muita saída".
A histórica importadora, que começou a trabalhar quando ainda não havia escanções nos restaurantes, acha que Portugal continua a ter muito futuro como país produtor, devido à riqueza do seu "terroir", o contrário da massificação, por exemplo, dos países da América Latina.
A evolução do vinho Verde é apontada por esta especialista como um exemplo entusiasmante de como é possível a ultrapassar a dificuldade, ainda existente, do mercado mundial identificar claramente um vinho de mesa como distintivo de uma região portuguesa.
Fonte: Dinheiro Vivo
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