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João Portugal Ramos. Marquês de Borba investe em Angola
Um casal brinda com Marquês de Borba. Esta é uma das imagens da campanha publicitária que João Portugal Ramos lança em Angola e que sintetiza o desejo do enólogo e produtor neste mercado: amor eterno.

Assente no claim "Marquês de Borba. Atrai quem sabe escolher", a comunicação e a campanha da parceria luso-angolana WG/SanjayLise remetem para a "associação do lifestyle, convívio e glamour à escolha de um grande vinho alentejano". Durante um mês e meio, o Marquês de Borba tinto vai estar em outdoors nas renovadas ruas de Luanda, na televisão e na imprensa.

Com o mercado nacional em crise, João Portugal Ramos quer reforçar as exportações, que pesam 60% no negócio. "Sinto que o crescimento pode vir de fora", diz o produtor, ao Dinheiro Vivo.

Depois de se ter lançado no vinho verde Alvarinho, no verão, com foco nos EUA e Reino Unido, agora aposta em Angola com o seu best-seller. "Temos expectativas muito altas para este mercado", admite, revelando que Angola já vale 10% das exportações.

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A par da campanha, a mudança de distribuidor, aliada à "grande afinidade do consumidor angolano com o vinho português", nomeadamente "o vinho alentejano", só pode dar bons frutos. E isso confirma-se nos 10% que a empresa familiar espera crescer este ano, chegando aos 17 a 18 milhões de euros.

Veja o vídeo: João Portugal Ramos. Do Alentejo para o mundo

Este resultado é contrário ao desempenho do mercado português (-5%). Uma situação que João Portugal Ramos já esperava. "As pessoas procuram o preço baixo, apesar de quererem beber melhor." Também na restauração, que antes do agravamento do IVA "já vinha em grande queda", se nota uma perda. Além disso há a proliferação de marcas. "Outro bem de grande consumo tem 10% das marcas. As pessoas não sabem para que lado se hão de virar."

Embora este produtor esteja noutras regiões, o Alentejo foi aquela que fez grande a marca cá dentro e lá fora. "A primeira garrafa Alentejo que vendi com o meu nome foi para a Suécia e a primeira de Douro também." Foi este mercado que o empurrou para crescer.

"Somos um país pequeno, mas estamos entre os dez mais importantes produtores mundiais de vinho. Temos peso na produção mas não conseguimos passá-lo para o consumo geral", diz. A publicidade é um caminho, mas antes é preciso resolver as elevadas taxas de países como Brasil, Venezuela ou Angola.

"Não basta dar jantares em casa de embaixadores com 12 pessoas - media ou compradores -, falta passar a imagem de qualidade para o grande público." Fazer como França? "Os franceses têm uma história muito bem contada", diz Portugal Ramos. São conhecidos por terem vinhos caros, apesar de hoje já serem mais baratos que os portugueses, o que só não é um problema maior porque "as marcas reconhecidas há centenas de anos vendem ao preço que querem".

Mas os portugueses também conseguem. Veja-se a nomeação de João Portugal Ramos para o prémio de Adega Europeia do Ano, pela prestigiada revista Wine Enthusiast. "Termos sido escolhidos é espantoso e mostra que lá fora estão atentos ao trabalho que desenvolvemos no Alentejo." E é também um sinal de otimismo para Portugal.

"Pôr medalhas nos rótulos nunca me entusiasmou, mas a verdade é que elas vendem. Houve uma altura em que um grande guru de marketing me disse: ‘O seu nome tem de sair dos vinhos' - do Marquês de Borba, Vila Santa... Foi um erro total, que me atrasou uma série de anos. O meu nome é que vende."

Na corrida estão concorrentes ferozes como a Axa Millésimes e Vins, de Michael Gassier (França), Marqués de Riscal (Espanha) e Produttori del Barbaresco (Itália). O vencedor é revelado dia 31 de dezembro.

Alentejo Entre xisto, acácias e carvalho
Fomos à principal unidade de João Portugal Ramos: Estremoz. São 150 hectares geridos por uma empresa familiar e de onde sai o vinho Vila Santa, entre outros

"A manhã [11 de julho] esteve nublada e fresca, J'aquim, mesmo boa para a vinha, hã?!" Sorridente, João Portugal Ramos cumprimenta o capataz, Joaquim Faria, no início da visita guiada. O homem moreno, de chapéu e óculos escuros, acena que "sim" e avisa: "a tarde vai estar quente". O alerta apressa a saída do grupo, seduzido pelos cheiros de mármore e cal do lagar, e de mosto e carvalho francês da adega, onde repousa Vila Santa 2012, a 15 graus de temperatura e 70 de humidade. Mas ali também há Marquês de Borba, Quinta da Viçosa e Loios.

Com o pátio das acácias para trás, a vista passa a ser de paralelas verdes: 150 hectares no Alentejo. "Olhe a beleza desta vinha", diz Portugal Ramos, apontando com o walkie talkie a Pintainho com 8 anos. O solo é de xisto, algum "em adiantado estado de metamorfização", para ajudar à drenagem e permitir que raízes vão bem fundo.

Como a da vinha Extremos, cuja cor vai do esbranquiçado ao encarnado. "'Tá linda, pai", diz João Maria, filho mais novo do produtor. A dias de ir para a Califórnia, o jovem de 22 anos, formado na Universidade de Montpellier, França, conhece o seu futuro.

Chegamos ao cimo do Castelo, a 450 metros de altitude. "Quero muito ter dimensão, mas manter os postos de trabalho [125 pessoas] é o mais importante", diz o enólogo, que se tornou produtor em 1997 e rejeita ser chamado de empresário. "Só tive a sorte de estar no local certo na altura certa."




Fonte: Dinheiro Vivo