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Interesse por vinho cresce em Macau
O interesse pelo vinho está a crescer entre a população jovem de Macau, sobretudo por razões profissionais. Há gente a frequentar cursos especializados e a beber vinho em eventos sociais. E há produtores e marcas famosas internacionais interessados no potencial do mercado local.

Os especialistas na área do vinho consultados pelo PONTO FINAL partilham da opinião de que há hoje muitos jovens, chineses, entre os 23 e os 30 anos, que começam a ter interesse pelo vinho.

"Nota-se que há um interesse profissional, porque com este crescimento de Macau, vieram sommeliers de fora, [ou seja, escanções], já há sommeliers de Macau e está criada a primeira associação de sommeliers de Macau, que vão ter a primeira competição no dia 10 de Dezembro no Instituto de Formação Turística (IFT)", explica Luís Herédia, vice-presidente da Confraria de Enófilos de Macau, director da empresa de vinhos Vinomac e professor da disciplina de vinhos do IFT, em Macau desde 1989.

Anualmente o IFT acolhe mais de 1600 pessoas que frequentam estudos sobre vinhos. Há 360 estudantes por ano a estudar a disciplina de ‘Wine Studies' [integrada nos respectivos cursos], existem mais 250 alunos a frequentarem as formações WSET (Wine and Spirits Education Trust), certificadas através do Reino Unido. A estes acrescem mais mil a frequentarem seminários técnicos, geralmente dirigidos a profissionais do sector. "Isso demonstra de facto que há um interesse", refere Luís Herédia.

"Cresceu a importação, o consumo e a formação sobre vinhos", acrescenta David Wong, director de alimentação e bebidas do IFT.

As importações para Macau aumentaram sobretudo a partir do momento em que foram removidas as tarifas alfandegárias de 15 por cento em 2008. "O vinho ficou mais barato", explica David Wong. Aumentou o número de lojas e locais de venda de vinho.

França seguida por Portugal são os principais países de origem do vinho importado. O vinho tinto representa cerca de 90 por cento das importações, o vinho branco, champanhe, vinhos espumantes e outros equivalem ao restante valor das importações.

Dar um salário por um vinho

Embora a França domine em valor (mais de 80 por cento do mercado) e em volume nas importações de vinho para Macau, "há um reconhecimento em Macau da qualidade dos vinhos portugueses. As pessoas de Macau, os profissionais, quem conhece o vinho, que trabalha com o vinho e que o prova reconhece essa qualidade", diz Luís Herédia. Agora, "é preciso estender esse reconhecimento a um público mais alargado que quase não conhece Portugal, essa é a dificuldade", acrescenta o empresário. Apesar de tudo, "Macau está nos primeiros cinco mercados para alguns produtores portugueses, isso é muito importante, sobretudo nos vinhos de gama alta".

O interesse de produtores de vinho internacionais pelo mercado local está também a crescer, conforme referem os especialistas consultados.

Exemplo disso é a visita ao território de fabricantes de vinho famosos como os produtores australianos John Duval e Peter Gago, o britânico Nicolas Potel, o francês Pierre Perrin, o holandês de quinta geração em Portugal, nascido no Porto, Dirk Niepoort, com produções de vinho no Douro, e Doktor Loosen da Alemanha. Este último, que é um dos grandes produtores da Alemanha, "vem todos os anos visitar Macau", diz Luís Herédia. "Temos nomes muito sonantes a passarem aqui", acrescenta.

Além disso, "há muitos turistas de Hong Kong, da China Continental, a visitarem o território e com eles aumentaram as vendas de vinhos em Macau", diz David Wong. São, sobretudo, os chineses do Continente quem compra e consome os vinhos franceses. "Há uma tendência de crescimento no mercado chinês para os vinhos franceses, especialmente os de Bordeaux", explica David Wong.

Maggie Mak, actualmente a exercer funções de ‘sommelier' (ou escanção) no Grand Hyatt de Macau, refere que a grande parte dos turistas que chega do Continente diariamente a Macau vêm apenas "para jogar". No entanto, o conhecimento sobre vinhos está a aumentar e há mais gente endinheirada, proveniente do Continente que se mostra aberta a novas propostas.

Para Maggie, por comparação com a oferta de luxo de vinhos franceses, os vinhos portugueses oferecem uma boa relação preço e qualidade, sobretudo, para a sua geração, na casa dos 20 anos. "Há uma boa selecção disponível nos supermercados, posso comprar um vinho português muito bom, com qualidade superior, sem ter que gastar o salário de um mês", diz Maggie.

Vinho por curiosidade

Maggie Mak, 26 anos, é nascida e criada em Macau e representa a geração actual de novos amantes e consumidores de vinho. A jovem nada sabia de vinhos até ingressar no Instituto de Formação Turística de Macau e partilha da opinião de Luís Herédia no que diz respeito ao impacto da escola de hotelaria e dos cursos de vinhos profissionais no aumento do interesse pelo vinho em Macau. "Na minha família não há cultura de beber vinho. Na cultura chinesa, sobretudo na geração mais velha, acredita-se que o álcool prejudica o corpo", conta Maggie Mak.

Foi na escola, todavia, que Maggie começou a deixar-se fascinar pela cultura do vinho. O que a seduziu no início não foi o sabor "amargo e ácido", mas sim o processo de produção e de criação. Hoje Maggie nas suas funções como "sommelier" no Grand Hyatt recomenda os vinhos e outros tipos de bebidas, cuida das encomendas, faz as listas de vinhos em colaboração com os chefs de cozinha. "Gosto de sentir e de diferenciar os sabores, as características, se é um vinho mais leve ou mais frutado".

Maggie Mak confirma que há muitos jovens em Macau que começam a interessar-se pela cultura do vinho. Em comparação com a geração mais antiga de Macau, "os jovens chineses têm mente mais aberta, quando vão a um restaurante, às vezes, não sabem o que é um ‘cabernet', mas pedem um copo por pura curiosidade".

"Hoje há mais revistas de ‘lifestyle' a falarem de vinho, da cultura e do estilo de vida associado ao vinho", diz Maggie. Os mais novos estão a beber vinho porque é a tendência do momento e está na moda. Mas, também, porque o vinho é a bebida dos eventos sociais organizados por hotéis e casinos. Maggie descreve este novo grupo de consumidores como sendo formado sobretudo por jovens, entre os 23 e os 30 anos, que exercem profissões na área das relações públicas, do marketing, em hotéis ou na indústria do turismo. "Os jovens no primeiro emprego não são logo convidados para eventos sociais, mas ao fim de algum tempo começa a fazer parte do trabalho e da vida social". Estes jovens bebem vinho porque faz parte das actividades sociais associadas às profissões, como as provas de vinhos, mas também quando estão a conviver com os amigos.

O interesse pelo vinho como opção de carreira profissional tem vindo a crescer a par com o crescimento económico da cidade e a abertura de mais hotéis e restaurantes de luxo. É na escola, na disciplina dos vinhos, que muitos jovens chineses têm o primeiro contacto com o vinho de outras paragens.

Há mais jovens à procura de formação na área da hotelaria e há mais hotéis e restaurantes a recrutar residentes de Macau para funções na área da alimentação e bebidas. "Há antigos estudantes do IFT a exercerem funções como ‘sommeliers', por exemplo, no Wynn, no Grand Hyatt ou no Four Seasons", diz David Wong.

"O vinho é muito importante para os estabelecimentos em termos de receitas, por isso há um investimento grande no recrutamento de especialistas e isso faz com que a procura por talentos locais também cresça", explica Maggie. As empresas recorrem aos locais também "para poupar nas quotas de importação de mão-de-obra do exterior", acrescenta.

Mais fácil atrair consumidores

Outro factor que favorece o consumo é "o aumento da qualidade", afirma Luís Herédia. "O vinho melhorou em praticamente todos os países. Abre-se uma garrafa e os vinhos têm menos problemas com a rolha ou com bactérias. Antes, os sabores, de facto, não eram agradáveis. Hoje 90 por cento ou mais dos vinhos estão em condições, é só uma questão de se gostar de um vinho mais leve, mais rico, mais ou menos encorpado, mais ácido ou menos ácido. Mas, todos os vinhos estão bem tratados e isso faz com que as pessoas quando bebem um copo de vinho digam, de facto esta bebida não é má", diz Luís Herédia. "Isso não acontecia antes, há 20 anos. Hoje é mais fácil atrair novos consumidores para gostarem de vinho. Essa é uma das razões porque tornou-se mais fácil entrar em países cuja cultura não é de vinho".

Para David Wong, que nasceu em Hong-Kong mas aos quatro anos foi viver para o Reino Unido, a razão do aumento do consumo de vinho, não só em Macau, mas no Continente em geral, deve-se sobretudo ao aumento do poder de compra e ao gosto dos chineses por comida e por tudo o que está associado ao ritual gastronómico.  "Os chineses adoram comida, e uma coisa está associada a outra, se quero uma boa refeição também quero provar um bom vinho", diz. Por outro lado, "há cada vez mais chineses que deixam de ver o vinho apenas como um presente caro para dar quando regressam de uma viagem.". "Eu também gosto de comida e procuro sempre os melhores vinhos", conclui David Wong.

Importou-se menos vinho nos primeiros 10 meses de 2013

As importações para Macau de vinho tinto e branco entre o período de Janeiro a Outubro de 2013 sofreram uma redução em comparação com igual período do ano passado, de acordo com estatísticas fornecidas pelos Serviços de Alfândega da RAEM.

Nos primeiros 10 meses do ano foram importados para Macau um volume total de 3,7 milhões de litros de vinho tinto e 365.087 litros de vinho branco, enquanto que no mesmo período em 2012 haviam sido importados 5,7 milhões de litros de tinto e 444.601 litros de branco.

No entanto, essa diminuição nas importações não quer dizer que tenha havido uma redução no interesse ou no consumo de vinho. "A análise do crescimento das importações deve ser feita com base numa comparação dos dados relativos a vários anos", explica Luís Herédia, vice-presidente da Confraria de Enófilos de Macau, director da empresa de vinhos Vinomac e professor da disciplina de vinhos do IFT, em Macau. "Nos anos em que abrem mais hotéis e restaurantes é natural que haja um maior volume de importação porque as casas tendem a abastecer-se, há uma propensão para comprar mais para encher os mostruários e prateleiras de exposição, esse vinho depois vai sendo consumido gradualmente. Para reduzir os custos de transporte, os importadores podem, também, optar por importar grandes volumes de uma só vez", explica o empresário

Em termos de volume, nas importações de vinho tinto, a França mantém-se como o principal país de origem, tendo sido importados entre Janeiro e Outubro de 2013 um total de 1,1 milhões de litros de tinto (2,2 milhões de litros no mesmo período em 2012) e apenas 35.791 de branco.

Portugal continua a ser o principal país de origem de vinho branco, em termos de volume, com 214.353 litros importados entre Janeiro e Outubro de 2013 (279.910 no mesmo período em 2012). Nos tintos, Portugal é o segundo principal país de origem, com 1.074.409 litros importados nos primeiros 10 meses do anos (1,29 milhões de litros em 2012).

 

 

Fonte: Ponto Final