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Exportações de vinho já valem 725 milhões
As vendas de vinho português em mercados externos continuam a bater recordes. O preço médio do vinho nacional também subiu

Depois de terem ultrapassado a barreira dos 700 milhões de euros em 2012, as exportações de vinhos portugueses cresceram 2,4% no ano passado, batendo novo recorde de 724,7 milhões de euros, revelou ontem Frederico Falcão, presidente do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), na Conferência Inaugural Uva d'Ouro, a iniciativa conjunta do Continente, Diário de Notícias, Jornal de Notícias e TSF para promover o vinho português.

"Portugal até pode estar a vender menos vinho, porque as vendas no mercado interno diminuíram, mas o País está a vender melhor, pois o preço médio subiu", garante Frederico Falcão. "Este é precisamente o trabalho que queremos fazer, de valorização do vinho nacional, conseguindo que este seja vendido a melhor preço", sublinhou o presidente do IVV.

O crescimento sustentado das exportações de vinho nacional é uma meta que tem mobilizado produtores e distribuidores em feiras internacionais, contactos com potenciais importadores e divulgação da marca Portugal no exterior. "Vender fora tem um custo acrescido. É preciso conhecer bem o mercado, estabelecer relações de confiança, fazer o seguimento das ações e tudo isso pode chegar a demorar anos", lembra Frederico Falcão. E há que contar ainda com algumas dificuldades adicionais, como eventuais barreiras linguísticas ou alfandegárias.

"No caso dos mercados orientais, mais do que barreiras linguísticas, há muitas vezes barreiras culturais", acrescenta Manuel Cabral, presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP). "São mercados que obrigam a um grande investimento e a muito trabalho de conquista. Nós queremos sempre negociar mais rapidamente, mas o tempo dos interlocutores orientais é outro e tem de se ser muito paciente", constatou Manuel Cabral.

De acordo com o presidente do IVDP, 90% das vendas de vinho do Porto estão atualmente concentradas em dez mercados, dos quais apenas dois - EUA e Canadá - não são europeus. Já o vinho do Douro vende maioritariamente fora da Europa. "E estas realidades diferentes podem ser benéficas porque um vinho pode abrir a porta a outro", alega Manuel Cabral. "E podem ainda abrir a porta a outros produtos portugueses, com destaque para o turismo", sugere.

Mercado interno relevante
A intensificação da veia exportadora dos produtores vitivinícolas portugueses não deverá, no entanto, desincentivar a tradicional atenção dada ao mercado interno, aconselha Frederico Falcão, para quem "o mercado nacional é de grande proximidade e é necessário mantê-lo".

Com 77% das vendas de vinho a serem atualmente realizadas em grandes superfícies comerciais, o sector sabe que o contexto de crise em que o País está mergulhado não favorece o incremento das vendas, mas os produtores e distribuidores estão atentos às novas tendências de consumo. E entre elas assume particular destaque a crescente procura do bag in box. Ana Isabel Trigo Morais, presidente da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), confirma que "33% da venda de vinho a retalho já é feita em bag in box, salientando também a sensibilidade cada vez mais evidente dos portugueses a ações promocionais. "O consumo está a passar uma fase difícil em Portugal e não nos podemos esquecer de que 43% das famílias chegam ao final do mês sem dinheiro para fazer compras, por isso as pessoas selecionam cada vez mais cuidadosamente aquilo que compram", aponta.

"O consumo de vinho voltou para dentro de casa, mas está mais exigente, mais atento e mais informado", revela também a presidente da APED. No entanto, Ana Isabel Trigo Morais salienta que o consumidor de vinho "procura sempre valor nos produtos que escolhe e nem sempre esse valor está no preço". E a presidente da APED não duvida de que "os portugueses consomem aquilo que se faz em Portugal e valorizam cada vez mais os produtos nacionais".

Ainda assim, em 2013, o consumo de vinho caiu 5% em Portugal, muito por culpa das fortes quebras sentidas no canal Horeca (hotéis, restaurantes e cafés). Já o consumo no canal de retalho sofreu um decréscimo na ordem dos 2%. Com apenas um trimestre cumprido, 2014 antecipa desde já alguns sinais de recuperação neste índice. A presidente da APED confirma "um aumento do consumo de vinho neste primeiro trimestre e um aumento do preço médio da garrafa de vinho", algo que há muito era reivindicado pelos produtores. No Instituto dos Vinhos do Douro e Porto, Manuel Cabral acaba por reconhecer que "o consumidor português ainda está num estádio muito básico, mas que tem vindo a evoluir". Por essa razão, Manuel Cabral "acredita no mercado português porque tem um grande potencial para crescer".

Foi também o acréscimo significativo de vendas de vinho nacional durante as últimas edições de feiras promocionais específicas desta fileira de produtos que levou a cadeia de hipermercados Continente a reforçar a aposta na divulgação da produção vitivinícola portuguesa. Depois de ter apostado na promoção de uma marca própria de vinhos, contando com o apoio dos produtores nacionais, a cadeia do grupo Sonae junta-se aos trabalhos de divulgação do vinho português em mercados externos, mesmo sem ter uma presença física fora de Portugal.

"A criação de marcas de valor, como estamos a fazer, é importante para melhorar a marca ‘Portugal' lá fora. E se os nossos parceiros melhorarem o seu negócio, a economia portuguesa também melhora, o consumo sobe e nós beneficiamos naturalmente de tudo isso", alega João Paulo Seara, diretor de Marketing da Sonae MC.

"A categoria dos vinhos é uma das mais importantes para uma cadeia de hipermercados porque cria ligações emocionais muito fortes com os clientes e nós apostamos muito nesse relacionamento intenso com os consumidores", reforça João Paulo Seara. "Nós já sabemos que o vinho português tem muita qualidade e queremos valorizá-lo", acrescenta ainda.

É com esta convicção que João Paulo Seara justifica a aposta reforçada do grupo Sonae na iniciativa Uva d'Ouro. "Tal como acabámos por confirmar na primeira edição em 2013, este projeto vem efetivamente responder à necessidade de democratizar o acesso dos portugueses a vinhos de muita qualidade e a vinhos premiados no âmbito desta iniciativa", salienta. "Esta iniciativa acaba por permitir que o cliente identifique facilmente, através das medalhas, os produtos com qualidade reconhecida por um júri especializado e que consiga, assim, encontrar vinhos premiados na prateleira do hipermercado", explicita João Paulo Seara.

A experiência de 2013 levou, aliás, a cadeia de hipermercados do grupo Sonae a reconhecer um acréscimo nas vendas dos vinhos premiados a partir do momento em que as garrafas passaram a exibir o selo da distinção que lhes havia sido atribuída.

 


Fonte: Dinheiro Vivo