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Redes colaborativas no setor vitivinícola: Um estudo aplicada à Península de Setúbal
No mercado global é dado cada vez maior ênfase às redes de colaboração, sendo frequentes as relações de colaboração inclusive entre empresas concorrentes. A lógica fundamental da colaboração é a de que uma empresa, perante as atuais características do mercado que determinam a crescente necessidade do controlo de custos, maiores restrições de tempo e um alto nível esperado de padrões de qualidade nos produtos e na prestação de serviços, não pode competir com sucesso por si só.

Nesse sentido, a configuração das empresas em redes colaborativas surge como um instrumento importante para lhes garantir um melhor desempenho e aumentar o seu potencial competitivo, permitindo-lhes alcançar os objectivos estratégicos e garantir a sua  sustentabilidade.

Um trabalho de investigação desenvolvido no âmbito de uma dissertação em mestrado em Ciências Empresariais (Lima, 2014) aplicado a adegas da Península de Setúbal permitiu identificar alguns padrões de comportamento colaborativo destas empresas na região nomeadamente:

 - Mais do que a globalização, referida por muitos académicos como factor impulsionador da colaboração entre empresas, no caso das empresas selecionadas da Península de Setúbal, são a mudança de atitudes de consumo e a consolidação do sector os factores que mais induzem à colaboração.

 - Apesar de ser sentida a necessidade de uma maior colaboração entre as empresas, a qual actuaria como alavanca para o aumento da sua competitividade, apurou-se que a estrutura do sector e as características do produto impactam na intensidade e na largura da colaboração, restringindo-a a algumas actividades.

De facto, as empresas coordenam algumas actividades tácticas e operacionais ao nível das vinhas, designadamente a indicação de castas a plantar, informações técnicas de condução e de tratamentos preventivos a efectuar e sincronização da vindima, granjeando um melhor desempenho e subsequente resultado, mas não exploram uma maior integração das suas actividades e que seriam conducentes à sua estratégia para a competitividade.

A ação coordenada em processos de aquisição de fatores de produção, de produtos e de prestação de serviços, por aumento da massa crítica conferir-lhes-ia maior poder negocial, permitindo-lhes alcançar economias de escala. Mesmo que limitada à negociação de contratos, proporcionaria optimização de recursos, racionalização de custos, maior conhecimento, e, portanto maior segurança nas técnicas e práticas que passariam a estar harmonizadas, contribuindo para o aumento do controlo e da rastreabilidade, necessários num processo de produção de vinho de qualidade. Esta seria, por exemplo, uma área a explorar no âmbito das relações colaborativas.

Não obstante a fraca intensidade de colaboração que se comprovou, as empresas têm melhorado o seu desempenho individual e aumentado a sua competitividade no setor.

O aumento da intensidade de colaboração entre as empresas no cluster vitivinícola da Região implicará a definição adequada da forma de organização em rede, a identificação dos objectivos comuns, alinhados com uma visão estratégica que seja análoga e a interiorização da necessidade de execução conjunta de actividades, requerendo, necessariamente, de mecanismos de coordenação eficientes e eficazes. Atendendo à prevalência de uma cultura de participação pouco desenvolvida, impõe-se um foco em práticas e rotinas de colaboração efetiva entre os vários parceiros, potencialmente com visões divergentes, dada a sua heterogeneidade, mas conciliáveis se alinhadas com objectivos conjuntos, sendo que o maior desafio que se coloca ao desenvolvimento e consolidação do setor será o encontro de equilíbrios e de consensos que possibilitem gerar respostas adequadas, atempadas e sustentáveis às necessidades do mercado.

É de considerar que a um nível horizontal na cadeia de abastecimento, atendendo a que a generalidade das empresas produtoras/transformadoras da região estão a adoptar como estratégia de crescimento a expansão para mercados internacionais, procurando conquistar novos mercados e aumentar a penetração naqueles onde já conseguiram referenciar os seus produtos, procurando fruir igualmente do crescimento progressivo do consumo em países não produtores, o desempenho competitivo impõe-se como um factor crítico de sucesso. Assim, num contexto de concorrência acrescida e no qual os consumidores prosseguem uma oferta diferenciada, desempenhando um papel ativo na construção da "marca" e da tendência, há uma janela de oportunidades para as empresas da região potenciarem, através de relações colaborativas, as distinções que, pela qualidade e diferenciação, os vinhos da Península de Setúbal têm vindo a alcançar em concursos internacionais e de uma forma coordenada e consistente, assente no compromisso e na reciprocidade, ganharem a dimensão que lhe possibilitará aumentarem e consolidarem, com um retorno mais eficaz do investimento, a visibilidade internacional dos vinhos da Região.

Mais informação em:

Lima, M. J. (2014) "Redes colaborativas na gestão da cadeia de abastecimento: O Setor vitivinícola na Península de Setúbal" Dissertação de Mestrado em Ciências Empresariais - Ramo de Gestão Logística sob orientação da Professora Doutora Luísa Carvalho, ESCE, Instituto Politécnico de Setúbal.

 

Fonte: Setúbal Na Rede