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Vinho Verde? “Quando os japoneses o provam, adoram-no”
28 produtores de Vinho Verde estiveram em Tóquio à procura de aumentar as exportações. Portugal tem uma quota de 0,7% nas importações japonesas.

Tamamura Toyoo já não vai a Portugal há quase 20 anos. Desde que o país aderiu ao euro, diz, tudo se tornou "proibitivo". Mas recorda que em Portugal "havia boa comida, bons restaurantes, bom vinho e preços muito baratos".

Tamamura Toyoo é um dos líderes de opinião do vinho no mercado japonês, proprietário de uma das garrafeiras mais conceituadas de Tóquio - a Villa d'Est Gardenfarm and Winery. Não vende vinho português mas, quem sabe, isso pode mudar em breve.

O vinho verde foi a Tóquio tentá-lo. "Estive muitas vezes no Porto e cheguei a tentar importar vinhos para vender cá. Não conseguia. Diziam-me que este era um vinho local, muito barato, que não era para ser exportado", explica o empresário, que reconhece a "profunda transformação" operada pelo sector nas últimas décadas. "Tudo mudou.

Há uma imensa variedade de castas e este é um vinho de grande qualidade hoje. Quem sabe, é desta que o consigo incluir na minha gama de vendas.

Há que o divulgar mais porque os japoneses quando o provam, adoram-no", afirmou ao Dinheiro Vivo, à margem da grande prova de vinhos verdes que a Comissão de Viticultura da Região (CVRVV) organizou em Tóquio.  

Tamamura Toyoo regressa esta semana a Portugal. Foi convidado a integrar o júri internacional do concurso Melhores Verdes 2016, que tem a seu cargo a seleção dos best of, os cinco vinhos a concurso mais adaptados aos mercados internacionais. O consumo de vinho no Japão é ainda uma realidade recente.

Embora o país seja produtor de vinho, inclusive da casta Alvarinho, a norte junto ao mar do Japão, o consumo de vinho representa apenas 4% dos 80 milhões de litros de bebidas alcoólicas consumidas no país. A cerveja é a preferida, com uma quota de 31%.

Seguem-se as bebidas espirituosas com 25%. E mesmo o saké, a bebida tradicional japonesa que resulta da fermentação do arroz, não vai além dos 7%. Mas a cultura do vinho está em crescimento, com destaque para os segmentos premium.

E as potencialidades são muitas - o Japão tem cerca de 90 milhões de potenciais consumidores. Um mercado a crescer Desde 2010, as importações de vinho engarrafado no Japão cresceram 68,7%, atingindo 853,6 milhões de euros. Portugal tem uma quota de apenas 0,7%, menos de 6 milhões.

O Japão é, pois, uma "aposta estratégica" para as empresas portuguesas e, por isso, a Comissão dos Vinhos Verdes levou 28 produtores a Tóquio para promoverem os seus vinhos na feira Wine and Gourmet e em provas, seminários e jantares de harmonização para importadores e jornalistas da especialidade.

Yoshiko Takahashi é uma wine adviser da Academie do Vin, a maior e mais antiga escola de vinho no Japão, gostou do que viu. "Pude aprender mais sobre a região e isso é ótimo", explicou. Yoshiko recomenda aos produtores de vinho verde que se centrem na promoção e venda dos brancos e não tanto dos tintos, pouco apreciados pela sua "agressividade", diz. "São vinhos que, pelas suas características, como a frescura, o aroma e o baixo teor alcoólico se adaptam muito bem à gastronomia japonesa. É um mercado com muito potencial", acredita.

Essa não é a experiência de Vera Lima, dos Vinhos Norte. Há mais de seis anos que a empresa de Fafe, que vai já na terceira geração, exporta os seus vinhos da marca Norte e Tapada dos Monges para o Japão, onde entrou precisamente com o seu tinto, o Vinhão. "Vendemos cinco referências, mas a maior quantidade em todas as encomendas é sempre de Vinhão. O mercado gosta e este é um fator de diferenciação", diz Vera Lima. Em 2015, a Vinhos Norte vendeu 6200 garrafas no Japão - o objetivo é crescer 6% este ano e 12% no próximo.

Com 8,5 milhões de faturação, a Vinhos Norte ainda está muito ancorada no mercado nacional, já que apenas 15% dos sete milhões de garrafas que produz ao ano se destinam aos mercados externos. Também a Quinta da Raza está muito satisfeita com o mercado. Está a trabalhar com um importador japonês há apenas seis meses, mas já recebeu duas encomendas.

E as perspetivas de vendas são excelentes, já que o parceiro local tem uma garrafeira, vários restaurantes e 30 lojas de vendas de produtos orgânicos, para as quais aguarda apenas uma licença específica para poder vender vinho. "Isso abre-nos perspetivas excelentes de crescimento", diz Mafalda Teixeira Coelho.

A Vercoope, a união de sete adegas da Região dos Vinhos Verdes, está no mercado há oito anos e já aqui coloca cerca de 10 mil garrafas ao ano. Conta com dois parceiros locais, mas pretende encontrar importadores para outras cidades para além de Tóquio. José Castro acredita que a Vercoope "poderá, facilmente, atingir os dois milhões de euros de vendas no Japão no espaço de seis anos". Parcerias No mercado há sete anos, a Quinta da Lixa conta com um parceiro local, Michiaki Takenaka, que faz há quatro anos a ponte com os importadores.

Vende já 60 mil garrafas ao ano, mas Carlos Teixeira pretende, no mínimo, chegar às 200 mil no espaço de três anos. Em 2015, introduziu no Japão o Escolha Real e este vinho lidera já as vendas de vinho a copo nos restaurantes Hachijuro, uma cadeia de sete espaços em Tóquio e que tem mais dois previstos para abrir em breve.

Mas grande parte das empresas portuguesas que estiveram em Tóquio a promover os seus vinhos procuram ainda acesso ao mercado. Uma tarefa lenta e difícil. Só depois de estabelecida uma relação de confiança é que os japoneses fazem negócio. O que pode levar anos. "Este é um mercado muito exigente. Todos sabemos que é muito difícil de arrancar, mas que a fidelização é longa", diz Ana Ribeiro da Quinta de Linhares. André Miranda, do Casal de Ventozela, admite que "leve algum tempo" a arranjar importador.

Mas o crescimento das exportações, a uma taxa anual superior a 80% na última década, são um "excelente sinal", reconhece. De entre os muitos que procuram um lugar no mercado da Terra do Sol Nascente estão as quintas da Calçada, da Covela, do Homem, ou do Outeiro, a Casa Senhorial do Reguengo, a Casa de Vilacetinho e os Vinho Verde Young Projects, que juntam Vale dos Ares, Quinta de Santiago, Sem Igual e Cazas Novas. Todos foram visitados pelo embaixador português na feira. Francisco Xavier Esteves elogiou o que viu, sublinhando que o sucesso dos vinhos verdes será o sucesso de Portugal.        

 

Fonte: Dinheiro Vivo