Há cerca de trinta anos, no ambiente mágico de uma adega quase à beira-mar, um mestre abriu e deu-me a beber uma garrafa de um vinho tinto de 1973 com uma simples etiqueta: "Quinta da Cal".
Nunca mais lhe esqueci o aroma e o gosto, mesmo depois de ter bebido muitos outros vinhos e só bastante mais tarde é que reencontrei esses elementos.
A Quinta da Cal é a propriedade, em Nelas, no distrito português de Viseu, onde funciona desde há décadas o Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão, um organismo oficial que tem, sempre no terreno, ajudado a definir o perfil dos vinhos do Dão. E onde, também, vão pondo à venda garrafas do vinho que produzem quando ele é muito bom.
O Dão é a mais antiga região vinícola portuguesa, de vinhos não licorosos. Instituída em 1908, abrange uma extensão territorial no centro do país, resguardada do clima mais húmido do litoral oeste e dos extremos climatéricos de parte da Serra da Estrela, bem exposta ao sol. As suas grandes castas, que aí melhor revelam as suas extraordinárias potencialidades, são a casta tinta Touriga Nacional e a casta branca Encruzado. São elas, aliás, a base dos melhores vinhos do Dão.
A região do Dão não prima apenas pelo vinho e nela está bem representada a grande riqueza gastronómica portuguesa nos muitos restaurantes existentes, dos mais luxuosos aos mais modestos. É possível, numa refeição, perceber o modo como se interligam e se harmonizam os vinhos e a comida e ir depois à procura do produtor de um desses vinhos, comprar e levar para beber, e apreciar, mais tarde.
Um sinal de renovação de todo este "terroir" é o aparecimento, nos últimos anos, de quintas e empresas locais que consolidaram a oferta de um grande número de vinhos de qualidade e de preços diversificados, fora dos circuitos industriais, e sempre sob o controlo da Comissão Vitivinícola Regional do Dão.
Conhecerá o mercado brasileiro o verdadeiro vinho do Dão e, com ele, o que considero ser a melhor região vinícola portuguesa? É de esperar que sim porque ele já chegou ao Brasil.
Um dos seus melhores exemplos, se não mesmo o melhor, tem a designação muito simples de Quinta da Fata, que é o nome da propriedade onde é produzido. A Quinta da Fata fica em Vilar Seco, nos arredores de Nelas (Viseu), e é também um estabelecimento de turismo rural, com uma vinha considerada em 2016 a melhor vinha do Dão e vinhos multipremiados. A segunda fase da produção vinícola desta casa centenária começou em 2003 e tem vindo a aperfeiçoar-se tanto nos tintos (quer os de monocasta Touriga Nacional, quer os "blended", de várias castas, nas categorias "Reserva" e "Clássico") como nos brancos (com os Encruzados monocastas).
Conheço-os a todos, saídos da gestão atenta do produtor Eurico do Amaral e do enólogo António Narciso. Os seus brancos, como muitos dos brancos da região, fogem ao padrão doce dos brancos da moda. E os seus tintos são nobres e robustos. Têm de ser bebidos, apreciados, e lentamente desfrutados. E todos eles me fazem recordar esse tinto de 1973 da Quinta da Cal. Ainda não encontrei melhor.
Generalizou-se, em poucos anos, a moda de definir os vinhos por sabores que lhe são alheios, indo buscar "notas" de fruta, de iogurtes, de compotas, até mesmo de materiais inorgânicos. O mesmo mestre que me deu a beber o tinto do Centro de Estudos, disse-me, numa frase simples, o que era o vinho do Dão: "Faz lembrar o cheiro das lareiras ao entardecer." O bom vinho tinto não precisa de mais explicações.
Fonte: Portugal Digital / Pedro Garcia Rosado
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