“O vinho português está de luto. (…)
No final dos anos setenta tornou-se o maior acionista da empresa J.P. Vinhos, com instalações no Pinhal Novo. O seu dinamismo, a paixão pelo vinho, a criatividade prodigiosa, o bom gosto e a obsessão por fazer "bem feito" eram atributos que lhe permitiam encarar o futuro com enorme confiança e otimismo. De início, a atividade da empresa limitava-se a vinificar uvas compradas a viticultores da região e a vender os vinhos, a granel, para fazer Lancer’s rosê.
Poucos anos volvidos, António Avillez inicia uma nova fase da empresa, com a entrada no segmento dos vinhos engarrafados com marcas próprias. Contratou um jovem enólogo australiano - Peter Bright - que, com ele, iria revolucionar o estilo dos vinhos portugueses, fazendo da adega do Pinhal Novo um autêntico viveiro de marcas e ideias de sucesso. Vinhos como Quinta da Bacalhoa, de Cabernet Sauvignon, Má Partilha, de Merlot, Catarina, de Chardonnay e castas regionais, Cova da Ursa, um Chardonnay à australiana, e João Pires, um branco feito com Moscatel de Setúbal, rapidamente se tornaram referências nacionais e internacionais. Pouco depois criou a marca J.P., concebida para proporcionar a todos os portugueses o prazer de poderem beber um grande vinho a custo popular. (…)
A sua entrada no negócio do vinho generoso engarrafado deveu-se a um episódio fortuito, que revela a têmpera de António Avillez. Todos os anos produzia um volume apreciável de licoroso moscatel, para vender a granel, por encomenda. Um dado ano, próximo da vindima, com os contratos de compra das uvas fechados, o seu cliente anuncia que renunciava à compra do vinho. António Francisco Avillez não gostou da atitude, mas não se intimidou e, de imediato, decidiu criar a sua própria marca de licoroso, para vender engarrafado. Em boa hora o fez, pois revolucionou a produção do moscatel, que se traduziu na produção de um licoroso jovem, de excelente qualidade e num renovado interesse pelo consumo deste vinho. Um dos segredos foi utilizar apenas boas uvas de Moscatel na vinificação, ao contrário do que era norma na região, em que as melhores uvas eram vendidas na praça como uva de mesa e o resto misturado com outras castas, muitas vezes de fraca qualidade, para fazer o generoso. Depois desenvolveu os moscatéis velhos, mediante um sistema inovador de envelhecimento acelerado, que teve um sucesso retumbante e hoje é seguido por todos os produtores. (…)
Atualmente, há mais de um milhar de hectares de vinhas de Moscatel na região, inúmeras empresas a produzir licoroso, a exportá-lo para os quatro cantos do mundo e a ganhar, com uma regularidade impressionante, prémios dos melhores moscatéis do Mundo.
Nesta hora de dor não poderia deixar de testemunhar a minha admiração por António Francisco Avillez, uma personalidade multifacetada, que se distinguiu em inúmeras áreas de atividade, e um visionário que deixou uma marca indelével na história do vinho português. “
Prof. Virgílio Loureiro
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